quarta-feira, maio 09, 2018

(AV) Eu gosto de quase tudo quanto Joana Vasconcelos cria


Tanto quanto me recordo foi com «A Noiva», que descobri verdadeiramente a estética de Joana Vasconcelos. Quando mais tarde a quis rever, cheguei a deslocar-me a Elvas para a apreciar no excelente espaço, onde também figurava a coleção de António Cachola.
Desde então quase sempre me rendi ao talento da artista, por muito que algumas peças me merecessem alguma perplexidade (aconteceu com o caso do Cacilheiro enviado à Bienal de Veneza, cujo conceito era inquestionável, mas pouco impressivo na concretização final!), e ponderasse na acusação de a vermos transformada na «artista do regime», quando Passos Coelho era primeiro-ministro. Esta última pareceu-me manifestamente exagerada porque, sempre que se justificou, Joana Vasconcelos manifestou-se como apoiante de António Costa, quer como presidente da Câmara de Lisboa, quer depois como candidato a primeiro-ministro. Quanto ao talento ele manifesta-se não apenas na criatividade com que tem revisitado saberes e símbolos da cultura popular, dando-lhes uma leitura plural nos sentidos e na elegância dos resultados, mas também ganhando uma escala, que justifica ter-se convertido na empregadora de um conjunto significativo de técnicos e artesãos.
Trabalhando em escala incomum para a dimensão do mercado nacional, encontrou na internacionalização a solução para contornar os impasses que poderia tê-la bloqueado. Tanto tem bastado para que se veja alvo da maledicência de quem não a consegue igualar no sucesso, tanto mais que na formação enquanto artista dispensou a frequência das Escolas de Belas Artes de Lisboa ou do Porto, cingindo-se às menos glamourosas António Arroio ou Ar.Co. Há-de haver por aí muito despeito por, depois de Veneza ou de Versalhes, abrirem-se-lhe agora as portas do Guggenheim de Bilbau.

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