quinta-feira, setembro 05, 2019

(DIM) «Os Crimes de Limehouse» de Juan Carlos Medina


Os filmes passados na Londres vitoriana suscitam um fascínio particular, sobretudo se apimentados por crimes evocativos do mistério de Jack, o Estripador, ou dos casos investigados por Sherlock Holmes e o seu imprescindível Watson.
Kildare, o inspetor da Scotland Yard, aqui protagonizado por Bill Nighy, insere-se no modelo conandoyliano até por coincidir com o locatário de Baker Street na sugerida pederastia. Peter Ackroyd, o autor do romance em que se basearam os criadores deste argumento, inseriu alguns elementos curiosos na história: a presença de Karl Marx para sublinhar o quanto estava agudizada a diferença entre ricos e pobres, a importância dos espetáculos de music hall como entretenimentos populares e a facilidade com que as multidões eram manipuladas pelos fazedores de opinião no sentido de alimentarem ódios irracionais ou histerias coletivas.
À partida existem vários crimes horrendos por esclarecer, concomitantes com o julgamento de uma conhecida atriz acusada de ter envenenado o marido, um dramaturgo falho de talento e para cuja alcova empurrara uma amante, que a poupasse às fornicações que a enojavam.
Se a favor de Medina contam fatores determinantes como a irrepreensível reconstituição dos cenários e guarda-roupa da época ou uma criteriosa seleção de atores, entre os quais se conta o sempre excelente Eddie Marsan, em sentido contrário surgem as cenas em que os vários suspeitos dos crimes aparecem hipoteticamente a executá-los  como se fosse necessário ser redundante para enlear os espectadores na prévia identificação do culpado.
Quando o incómodo se estabeleceu foi inevitável recordar aquele que continuo a considerar o melhor filme sobre tal época e tema: «A Vida Íntima de Sherlock Holmes» de Billy Wilder, que bem valeria a pena reexibi-lo para o ano a pretexto dos cinquenta anos passados sobre a sua estreia. Comparativamente com esse título de um grande cineasta, este seu sucedâneo fica uns furos abaixo, merecendo o olvido a que, em pouco tempo, o condenaremos.

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