segunda-feira, setembro 23, 2019

Diário das Imagens em Movimento/ 23 de setembro de 2019


Em 1914 o cinema tornara-se num espetáculo muito popular em Itália, não havendo filmes importados que saciassem a avidez do público pelas imagens em movimento. Razão para que investidores locais apostassem na criação de uma indústria própria capaz de, ao mesmo tempo, ir ao encontro das intenções políticas dos seus dirigentes, ansiosos por abocanharem um quinhão na expansão colonialista em África. Não admira, pois, que o tema desta ambiciosa superprodução, que custou uma fortuna, mobilizou seis mil figurantes e teve a participação no argumento do muito celebrado poeta Gabriele d’Annunzio, fosse o da história antiga, futuramente celebrada por Mussolini.
Nas mais de duas horas de duração «Cabiria» conta as desventuras de uma rapariga que, ainda em criança, foge com a criada quando o Etna entra em erupção, mas logo é raptada por piratas cartagineses. Quase no momento em que um sacerdote sinistro está a preparar-se para a sacrificar ao culto de Moloch, um centurião romano, Fulvio Axilla, salva-a com a ajuda do seu escravo Maciste, dotado de assinalável força.
Se Caligari viria depois a prenunciar a chegada de Hitler à primeira fila da História, Maciste seria utilizado pela propaganda fascista da década seguinte para celebrar as supostas virtudes do ditador.
Os tormentos de Cabiria não se ficariam, porém, por esse momento de salvação: novamente caída em mãos cartaginesas, vê-se criada da filha do general Asdrúbal, um dos principais chefes do exército de Aníbal, então a avançar rapidamente para Roma. Até este ser derrotado e Cabíria cair nos braços embevecidos de Fulvio ainda muitas vicissitudes ocorrerão.
O filme de Pastroni é importante por ter lançado a moda dos pepluns, que teriam enorme sucesso em Itália antes e depois da Segunda Guerra Mundial. E a indústria de Hollywood não lhe ficaria indiferente, porque também nos seus estúdios não tardariam a rodar-se filmes como «Os Dez Mandamentos», «Ben Hur» ou «Quo Vadis», que de verosimilhança histórica pouco tinham, mas puseram gerações a acreditarem que ela teria coincidido com aqueles cenários de cartão, que em tais títulos lhes eram vendidos.

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