sábado, setembro 21, 2019

Apontamentos nas margens das notícias / 21 de setembro de 2019: Inquietações sobre alterações climáticas e não só!


Em dia particularmente marcado pelas manifestações destinadas a pressionar os governos mundiais a tomarem medidas consequentes contra as alterações climáticas, ganha particular significado a notícia de uma estação de esqui austríaca, que iniciou os trabalhos de destruição do maior glaciar do Tirol para garantir uma mais fácil ligação a outra estrutura vizinha.
Onde se comprova como as razões empresariais continuam a causar crimes ambientais para que os seus promotores aumentem os seus obscenos lucros.
Razões semelhantes terão sido as que levaram o Facebook a fazerem negócio com empresas como a Cambridge Analytica para darem acesso à vida privada dos seus utilizadores de forma a manipularem-lhes as intenções eleitorais. Agora organização de Zuckenberg vem anunciar a suspensão de dezenas de milhares de aplicações, que permitiam a repetição da «habilidade». Como gato escaldado da água fria tem medo poucos acreditam nas boas intenções manifestadas por quem demonstrou tão poucos escrúpulos.
Escrúpulos também não tinha o proprietário dos Laboratórios Servier, que retardou tanto quanto possível a proibição da venda do seu medicamento Mediator, causando milhares de mortes em quem o tomava. O filme sobre o caso chamou-se «150 miligramas» e passou pelos ecrãs lusos em 2017, tendo como protagonista a atriz dinamarquesa Sidse Babett Knudsen, que conhecêramos na série «Borgen». A verdadeira Irène Franchon, que foi a tenaz denunciadora do caso, foi alvo das mais odiosas represálias, aparecendo agora na capa do «Libération» deste sábado, a pretexto de um artigo sobre o facto de só esta semana iniciar-se o julgamento de Servier e seus principais colaboradores. Demonstração de como os atrasos na Justiça não se limitam ao que, entre nós, vai acontecendo.
Na política nacional vai ganhando expressão a legítima proibição decidida pelo reitor da Universidade de Coimbra quanto à utilização de carne de vaca nas cantinas da instituição. Cristas exaltou-se julgando ganhar alguns votos mais nos que continuam alheios à emergência climática em que vivemos. Pela amostra dos que vêm debatendo o assunto dá ideia que a líder do iminente partido do monovolume voltou a dar um passo em falso a exemplo dos muitos, que têm sido os seus nos últimos tempos. É que nenhum partido político terá viabilidade se ignorar as tendências manifestadas pelos jovens, sobretudo quando eles se mostram tão em sintonia com as posições da adolescente Greta Thunberg quanto à exigência de um mundo sustentável onde possam ser felizes.
Nesse sentido vão surgindo diariamente relatórios e notícias quanto aos efeitos devastadores da ação humana sobre a natureza. Hoje ficou a saber-se que desapareceram três mil milhões de aves nos Estados Unidos nas últimas décadas dando provimento à sensação dos que se dizem transtornados com o silêncio dos campos, outrora tão pejados dos sons de pardais, melros, cotovias ou andorinhas. E os autores do estudo referem que tendo havido tal hecatombe entre as aves, pior terá sido o cenário nas demais espécies animais, que não têm sido tão acompanhadas quanto as que prendem a atenção dos bird watchers.
Desastre de outra natureza é a que se noticia na Argentina: os anos do mandato de Macri na presidência foram tão devastadores, que soam a ironia as promessas de há quatro anos, quando a sua agenda neoliberal prometia prosperidade mediante a desregulamentada atividade dos mercados. A situação social tornou-se calamitosa já não sendo só os sem abrigo os que revelam sinais de subnutrição. Para descontentamento de Wall Street prevê-se o regresso dos peronistas à liderança do país. Mas com uma pesadíssima herança para recuperar.
A concluir vale a pena regressar a outro tema a acompanhar na edição deste sábado no «Libè»: um físico, que costumo apreciar quando me surge à frente nalguma entrevista televisiva, vem pôr em causa a terminologia tradicional da ciência, nomeadamente para contemplar os mais recentes avanços quanto ao conhecimento do vazio tornando duvidosas algumas abordagens pouco rigorosas sobre a realidade quântica.

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