quarta-feira, setembro 18, 2019

Apontamentos nas margens das notícias / 19 de setembro de 2019: Da ironia de Putin ao gelo em Titã


Pode-se não ter grande simpatia por Vladimir Putin - até pelo facto de apoiar os partidos e movimentos de extrema-direita, que nos andam a assombrar deste lado da Europa! -, mas um dos momentos mais hilariantes da semana foi aquele em que comentou o ataque de drones aos campos petrolíferos de Abqaiq e Khurais, sugerindo à Arábia Saudita que comprasse o armamento russo para contrariar esse tipo de ataques. É que os príncipes sauditas andaram a gastar  balúrdios em sistemas «Patriot» e nenhum deles identificou, nem contra-atacou, as armas com que os autores da façanha puseram fora de serviço metade da produção diária do maior produtor mundial de petróleo. Por esta altura Riade bem poderia andar a pedir à Casa Branca o Livro de Reclamações...
 Quase desconhecido, mas arriscando-se a ser uma das personalidades mais admiráveis do nosso tempo, é o turco Fatih Mehmet Maçoğlu  que, nas barbas de Erdogan, tem conseguido ampliar a influência do Partido Comunista numa recôndita região da Anatólia Oriental. Em 2014 conseguiu ganhar as eleições municipais na sua cidade natal, Ovacik, apressando-se a criar uma cooperativa agrícola, que passou a cultivar os improdutivos campos pertencentes ao Estado. O resultado em empregos, produção de bens e serviços e desenvolvimento acelerado da cidade levou-o a candidatar-se no ano em curso a uma cidade vizinha mais importante: Tunceli. Ganhando-a, claro!
Como não podia deixar de suceder, o frustrado candidato a sultão não achou graça nenhuma enviando hordas de polícias para filmarem-lhe os comícios e, sobretudo, quem o apoia. O problema é estar tão fragilizado depois das recentes derrotas em Ancara e Istambul, que dificilmente se atreverá a reprimir a revolução silenciosa em curso naquela região.
Será curioso acompanhar a evolução dos acontecimentos para constatar até que ponto anda a gerar-se o embrião de algo bastante maior em tão improvável geografia ... 
A História da Segunda Guerra parece estar sempre a ser reaferida por novas informações, que tendem a confirmar ou questionar algumas das certezas dos que por ela se têm interessado. Um dos temas, que suscitaram filmes, artigos de revista ou de jornal e muitas outras referências quando o assunto vem à baila, é o das tentativas aliadas para iludirem os nazis quanto aos locais onde iriam atacar, quando estava na ordem do dia a reconquista dos países ocupados.
Sobre a preparação do Dia D nas costas da Normandia já muito se revelou. Agora vi uma reportagem sobre uma missão anterior, datada de 1943, quando os ingleses prepararam o cadáver de um sem abrigo para que assumisse a identidade de um espião, transportando-o depois de submarino até ao sul de Espanha de forma a que, por ação de ventos, correntes e marés, ele desse à costa numa das praias de Huelva. A acompanhar o corpo estariam documentos em que se previa a iminente invasão do sul do continente na Sardenha ou na costa grega.
A intenção era distrair os nazis das costas sicilianas, onde se concretizaria o ataque, contando para tal com a argúcia de um conhecido espião alemão sedeado naquela cidade espanhola. O problema terá sido o facto de o chefe da polícia ter-se apressado a ir entregar ao cônsul britânico os tais documentos preparados para chegarem às mãos do pretendido alvo.
A exemplo do que aconteceu com as missões destinadas a iludir as atenções alemãs no canal da Mancha nunca se sabe se eles foram suficientemente totós para acreditarem na banha da cobra. Mas que a história desta Operação Mincemeat continua a dar origem a livros palpitantes, temos de reconhecer que assim sucede. 
Conclua-se com notícia sobre paragens bem mais distantes: graças às imagens colhidas pela sonda Cassini entre 2004 e 2017 os astroquímicos da Universidade do Arizona vieram afiançar que existe um enorme campo de gelo com  mais de seis mil e trezentos quilómetros de comprimento na zona equatorial do maior satélite de Saturno: Titã.
Não é que tenha sido novidade a hipótese de existir água naquele planeta, mas comprovar a sua distribuição à superfície constitui algo de inédito, que os meios científicos apreciam com muito interesse...

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