domingo, setembro 29, 2019

Diário das Imagens em Movimento: «O Irlandês» de Martin Scorcese


É um dos acontecimentos cinematográficos deste segundo semestre do ano: a apresentação de «The Irishman», o mais recente filme de Martin Scorcese, só disponível para os assinantes da Netflix, mas que foi agora estreado no Festival de Cinema de Nova Iorque.
Quem o viu assinalou o regresso, quase trinta anos depois, ao universo de «Tudo Bons Rapazes», reencontrando-se Robert de Niro e Joe Pesci imersos nas suas atividades do crime organizado, um como o homicida conhecido por pintar as casas de vermelho com o sangue das suas vítimas e o outro como chefe da família Bufalino, que tomara aquele sob sua proteção, quando viera da Segunda Guerra Mundial e outro saber não tinha para além do que o levara a despachar um substancial numero de inimigos na frente italiana.
Al Pacino é o outro vértice do triângulo, compondo o personagem de Jimmy Hoffa, o sindicalista que ligou a máfia ao poder político e cujos comprometedores segredos terão explicado o seu desaparecimento, que é um dos mistérios inexplicados da América do último meio século.
Baseado num livro sobre o percurso de Frank Sheeran, esse tal irlandês que se viu dividido entre a sua fidelidade a um ou a outro e rejeitado pela família, que nunca lhe aceitou a «profissão», o filme revisita alguns dos assuntos mais polémicos do século XX norte-americano: a luta entre as mafias para se apossarem dos casinos em Cuba, a invasão da Baía dos Porcos ou o assassinato de John F. Kennedy.
É um filme com três horas e meia de duração, realizado e interpretado por septuagenários (ou que já passaram os oitenta como sucede com Harvey Keitel) e por isso reflete a nostalgia de um tempo, que já passou e não tem como regressar. Porque sobressaíram novos modelos de enriquecimento e outras subtilezas para condicionarem e manipularem os poderes  políticos. Mas Scorcese já não tem grande apetência por arriscar nessas bem mais complexas narrativas preferindo terreno seguro, aquele em que já concretizara um dos grandes títulos da sua filmografia.
Acresce ainda outro motivo para ver o filme: a possibilidade de apreciar a eficácia dos efeitos especiais em tornar verosímeis os personagens, quando mais novos. Se dantes a solução residia na maquilhagem e na opção por planos mais distanciados dos intérpretes, agora está-nos garantida a oportunidade de vermos De Niro, Pacino ou Pesci como se tivessem estado a rodar o filme em sucessivas décadas e à medida que iam envelhecendo.

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