terça-feira, setembro 17, 2019

(AMN) Apontamentos nas margens das notícias / 18 de setembro de 2019: Quadradinhos, falências, espionagem e martírios


Mark Ruffalo é um ator norte-americano cuja carreira não tem equivalido ao talento demonstrado em muitos filmes independentes, porque não costuma coibir-se na defesa de causas conotadas com as esquerdas, explicitando em voz bem alta as suas opiniões.
O azar de Boris Johnson foi que, das raras vezes em que a indústria do cinema deu a Ruffalo um vistoso cachet numa superprodução, logo havia de ser  no papel do super-herói Hulk. Ora, neste fim-de-semana, o atual primeiro-ministro inglês comparou-se a esse personagem no facto de, quanto mais o contrariam na questão do Brexit, mais irritado e empolado nos poderes fica.
Tão estranha afirmação levou alguns jornalistas a pedirem um comentário a Ruffalo, que terá dado resposta contundente:
- Num primeiro-ministro de banda desenhada faz todo o sentido!
E, de facto, num político que multiplica comportamentos só compatíveis com o universo dos quadradinhos, a reação de Ruffalo é uma evidência.
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Já não bastavam os prejuízos nos seus balanços a ameaçarem-lhe a sobrevivência, com as ações em Bolsa a desvalorizarem-se consecutivamente, e eis que a Uber viu o Estado da Califórnia dar-lhe mais uma machadada no modelo de negócio obrigando-a a integrar os motoristas, estafetas e outros tarefeiros como seus funcionários. Se as pedras começarem a cair como num dominó, ou seja com outros Estados e países a determinarem o mesmo, lá se vai um ícone da nossa precária «modernidade».
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Quem costuma pôr luvas para evitar alguma contaminação e dispõe-se a ver as reportagens do «60 minutos» já conhece de sobremaneira a Purdue Pharma. Em todas as peças emitidas sobre a epidemia dos opiáceos a farmacêutica fazia figura da tal Dona Constança em tempos evocada por António Vitorino como estando sempre presente em qualquer festa ou festança. De facto grande parte das overdoses rastreadas nos EUA nestes últimos anos teve origem no OxyContin, que saía dos seus laboratórios.
Agora ameaçada por inúmeros processos judiciais acionados pelas famílias das vítimas, a empresa decidiu fechar as portas comprometendo-se a reservar uma parte da massa falida para pagar as indemnizações. Mas quem acredita na palavra de quem fez da ciência uma ferramenta para os seus instintos gananciosos e psicopatas?
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Pegasus é o nome de uma tecnologia israelita, que permite espiar a tempo inteiro toda a atividade de alguém em particular. Daí que seja procurada por ditadores apostados em neutralizar e, até mesmo eliminar, quem lhes procure fazer frente. Segundo alguns whistleblowers terá sido graças a ela que a Arábia Saudita conseguiu atrair o jornalista Jamal Khashoggi ao consulado de Istambul para aí o matar e esquartejar.
Noutro exemplo, igualmente denunciado, o anterior governo mexicano terá recorrido a essa tecnologia para acompanhar todos os movimentos de alguns militantes das causas dos Direitos Humanos.
Perdida a caução moral de ter sido o país para onde emigraram os sobreviventes do Holocausto, Israel converteu-se nos últimos cinquenta anos na caricatura daquilo que deveria representar. Quanto mais não seja para honrar o martírio dos seus antepassados.
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E por falar em martírio o que dizer do que grassa com as ameríndias canadianas ou as aborígenes australianas sobre quem se andam a perpetrar milhares de homicídios. Mesmo separadas por todo o oceano Pacífico as circunstâncias são as mesmas: a miséria e a iliteracia empurra essas mulheres para as franjas sociais onde violadores e assassinos usam-se delas, logo as matando e fazendo-lhes desaparecer os corpos.
O caso assume tais proporções, que o primeiro-ministro Trudeau viu-se obrigado a implementar medidas de urgência para esclarecer os casos, que a polícia se apressara a arquivar mas com as famílias a exigirem que se mantenham em aberto. Até ver os culpados continuam à solta e em ação.

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