quarta-feira, setembro 20, 2017

(S) O trágico destino do autor da «Carmen»

Um dos mais trágicos destinos de compositores conhecidos na História da Música é o associado a Georges Bizet, cuja morte precoce, aos 36 anos, ocorreu logo após o tremendo fracasso da sua «Carmen» na Ópera Comique de Paris. Nesse 3 de junho de 1875 já se afastara da cidade, acossado pela crítica e pelo público, não só escandalizado com o tema verista da estória, mas também com a fraca qualidade dos cantores e dos cenários, assaz desadequados para o quanto deles a obra dependia.
Bizet viu fracassados os seus planos de, com um merecido êxito, conseguir libertar-se dos alunos  a quem tinha de dar aulas para conseguir o necessário rendimento para o sustento da família. Porque, para trás, tinham ficado outras obras - mormente as óperas «Pescadores de Pérolas» (1863), «A Linda Rapariga Persa» (1867) e «Djamileh» (1871) cujo sucesso fora igualmente relativo, embora sem jamais haverem conhecido reação tão negativa.
No corolário da curta vida o compositor sempre revelou uma saúde frágil que, associada à infelicidade conjugal e à constante insegurança interior, encontrava particulares obstáculos na sociabilidade com quem detinha o poder: essa burguesia arrogante, que desprezava os mais pobres e por isso por eles se vira seriamente ameaçada nos combates da Comuna de Paris.
Bizet já não pode assistir à sua reabilitação pública: depois de ter sofrido com as pateadas e com o abandono da sala pelos espectadores das primeiras representações, os músicos ambulantes tornaram muitas das árias da «Carmen» em grandes sucessos populares. E quando, em outubro desse mesmo ano de 1875, a obra estreia em Viena logo é elogiada por tão insuspeitos apreciadores como Brahms, Nietzsche ou Richard Wagner. 
Foi, porém, Tchaikovski o seu maior defensor prevendo que, daí a dez anos a «Carmen» seria a mais apreciada obra do reportório operático dos palcos de todo o mundo. A partir daí o seu sucesso repetiu-se em teatros europeus e norte-americanos, sempre colhendo enfáticos entusiasmos dos seus espectadores.
Terá sido necessário esse êxito generalizado para que a Opera Comique a levasse de novo à cena em Paris. Os detratores anteriores primaram então pela ausência ou pela rendição ao talento de quem, já sepultado no cemitério do Père Lachaise estava impossibilitado de receber o reconhecimento por que tanto esperara e lhe fora sempre negado.
 

Sem comentários: