sábado, setembro 23, 2017

(I) Quando o conceito de trabalho começou a ser teorizado

Tendo vivido na mesma época que Homero - ou seja entre 750 e 650 a.C. – Hesíodo foi dos primeiros a teorizar a importância do trabalho, considerando-o necessário e muito apreciado pelos deuses do Olimpo, que proporcionariam aos homens os frutos de tal esforço. Que seria dos pastores sem a ajuda de Aristeu ou de Pã? Ou dos agricultores sem Demétria? Ou dos caçadores sem Artemísia?
Ao contrário do que os Romanos viriam ulteriormente a defender, os deuses gregos não apreciavam a ociosidade, porque só através do trabalho se estabelecia a relação entre o homem e a divindade. Curiosamente a religião católica também viria a execrar o ócio apontando-o como a causa de todos os vícios.
A partir do século XVIII sucessivos filósofos elaboraram os fundamentos históricos do conceito do trabalho, fazendo-o evoluir à medida que se iam alterando os meios de produção.
Em «Princípios da Economia Política e do Imposto», publicado em 1817, David Ricardo retomou e afinou a noção do valor do trabalho, criada por Adam Smith no século anterior na famosa, e idolatrada pelos gurus do capitalismo, «Da Riqueza das Nações». Ao contrário do antecessor, Ricardo negava à terra o papel de criação desse valor, já que o aumento da riqueza apenas se deveria à conjugação do trabalho humano e do capital. E mesmo este dependia inteiramente do produzido pelo trabalho, afinal fonte única de criação da riqueza. O que Ricardo acrescenta à teoria de Smith é que, em vez de necessário à produção de mercadorias, o trabalho estava-lhe em toda a génese e desenvolvimento. Cada uma delas possuía um valor correspondente ao tempo de trabalho em cada uma das fases da sua criação, surgindo assim o conceito de «trabalho incorporado».
Ricardo ainda estipulava a diferença de valor entre duas mercadorias, que careceriam do mesmo número de horas de trabalho para serem concluídas: ela derivaria da diferença qualitativa nelas aplicadas, cuidando de as quantificar sob tal perspetiva.
O filósofo já integrava no seu corpo teórico a análise do ludismo, que tivera o seu auge entre 1810 e 1811 no norte de Inglaterra, sobretudo em Nottingham, com os operários têxteis a destruírem as novas máquinas a vapor, que lhes vinham pôr em causa a continuidade nos empregos. Defendidos por Lord Byron, que previa a existência de uma terrível sociedade futura em que todas as mercadorias seriam produzidas por máquinas, os luditas sofreram tal repressão que os seus principais líderes foram condenados à morte.
O advento da Revolução Industrial trazia consigo a alteração do conceito e das condições de trabalho, surgindo a preocupação em legislá-lo de forma a conter-lhe os piores contornos. A primeira lei especificamente sobre a implicação humana na produção de bens transacionáveis diria respeito á proibição do trabalho infantil. 

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