sábado, setembro 23, 2017

(DIM) Chegar ao cume e depois?

No primeiro episódio de uma série televisiva, que promete bem mais do que convenceu nesta descoberta - «I'm Dying Up Here» - dois personagens comentam o feito de Edmund Hillary nos Himalaias. Durante anos ele esforçou-se na preparação do grande projeto de ser o primeiro a escalar o Evereste, tido como impossível de concretizar desde que Mallory ali perdera a vida.
Em 29 de maio de 1953, acompanhado de Tenzing Norgay, ele conseguiu-o à custa de um sofrimento quase insuportável, porque a bravura não encontrava equivalente na energia para o empurrar montanha acima nas agrestes condições em que o fez. Daí que só durasse quinze minutos a permanência nesse topo do mundo. O que justificava a questão implícita por quem contava a estória: teriam valido a pena tantos e tantos trabalhos, ao longo de anos a fio, para que o gozo do momento culminante se cingisse a esse quarto de hora? Ou, mais do que alcançar o objetivo, a satisfação tem mais a ver com tudo quanto se faz para lá chegar?
No diálogo ainda se comenta a forma como Hillary e Tenzing comemoraram o sucesso: quando regressaram ao campo-base comeram uma prosaica sopa. Comentário de um dos interlocutores da conversa: “espero que tivesse sido boa!”
A metáfora condiz com a forma de encararmos a nossa existência. Convirá alimentar sempre sonhos maiores do que os concretizáveis na realidade, porque arriscamo-nos à frustração de já não termos mais Índias para descobrir se só a elas pretendíamos alcançar. Daí a relevância das Utopias: podemos lamentar a lonjura que elas distam do que vivemos, mas, tendo-as sempre presentes, e esforçando-nos por delas nos aproximarmos, nunca seremos dos que se sentem desempregados, quando tocam o cume das ambições e mais nenhuma encosta se perfila para ser novamente escalada. 

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