quarta-feira, setembro 06, 2017

(DIM) Heróis de um tempo que já não volta atrás

Nunca fui um grande entusiasta da Assírio & Alvim. A poesia nunca foi propriamente a minha praça e a edição de obras de autores reconhecidamente conotados com ideias fascizantes, ou no mínimo, bastante conservadoras, sempre me suscitou algum desconforto quando se colocava a questão de percorrer um dos seus espaços de vendas ou pavilhões na feira do livro. Ainda assim disponibilizei-me para ver a hagiografia de Manuel Hermínio Monteiro sob a forma de filme realizado por André Godinho em 2009. Veem-se testemunhos de quem o conheceu e fotografias ou extratos de arquivos em que ele estava no seu habitat natural, quer se tratasse do ambiente popular dos convívios em Trás-os-Montes, quer nas noites de boémia urbana.
Fica a ideia de um bon vivant, que preferiu divulgar as palavras alheias do que trabalhar prioritariamente nas suas, mas também um perfil de editor como já nunca mais será possível existir. Porque a produção de livros cumpriu a regra capitalista de ser centralizada em grandes empresas apenas interessadas nos lucros gerados pela atividade do que pela qualidade a ela associável. Podemos apoiar os pequenos editores, que se esforçam por nos proporcionar obras  a contrario do que são as modas, mas eles nunca conseguem sair do sufoco em que permanentemente vivem.
Editar livros sem ter como prioridade o retorno do investimento deixou de ser possível. E também já não existem excêntricos da estirpe de um Cesariny ou de um Al Berto, que foram os derradeiros bardos de uma época definitivamente encerrada.
O universo que Manuel Hermínio Monteiro criou morreu  quase ao mesmo tempo, que o seu projeto testamentário («A Rosa do Mundo»). A realidade deste milénio pouco se compadece com inspirações poéticas. Tudo se tornou impreterivelmente prosaico...

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