quinta-feira, setembro 14, 2017

(DL) A enorme carga erótica dos silêncios

O amor pode ser vivido no silêncio, na cumplicidade dos pequenos gestos, enormes em sugestões e significados? Sim era a resposta dada por Wang Kar-Wai num belíssimo filme - «In the Mood for Love» - que rodou num estado de graça, nunca mais repetido nos que veio depois a assinar.
E é também o tema de «Seda», um livro a meio caminho entre a novela e o romance, que Alessandro Baricco publicou originalmente em 1996 e recentemente reeditado entre nós. Também Hervé Joncour, protagonista da estória, vai conhecer um amor assim com a concubina do japonês Hara Kei, que visita por quatro ou cinco ocasiões quando, a pretexto da atividade de importador de bichos-da-seda, procurava alternativa para o morticínio nesses bichinhos engenhosos atingidos por súbita epidemia no ano de 1861. Se o objetivo dessas viagens era puramente comercial, o negociante francês vai ao encontro de algo mais do que da seda pura: os olhos expressivos, os movimentos diáfanos, que o fascinam, o acometem de paixão profunda apesar de ter em França uma respeitável família a alimentar.
Tal como no filme de Kar-Wai, esta não é história com direito a final feliz. Até porque o jovem Louis Pasteur encontra solução adequada para combater a praga e as deambulações de Joncour tornam-se desnecessárias. Mas fica essa busca da beleza, que não deixa de ser a que sempre se intenta quando está em causa a satisfação de uma das mais primordiais carências de cada um de nós - a dos afetos amorosos. 

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