terça-feira, setembro 05, 2017

(DIM) Uma Marienbad bem menos inspirada do que a revelada por Resnais

No cinema a cidade de Marienbad está inevitavelmente ligada à paixão avassaladora de Giorgio Albertazzi pela misteriosa Delphine Seyrig no filme, que Alain Resnais rodou em 1961 e onde espaços, pessoas, jardins pareciam congelados num momento temporal sem fim. A memória é-me tão grata quanto relacionada com uma experiência, que nunca mais esqueci: quando vi esse filme pela primeira vez no início dos anos setenta - foi no desaparecido Cinema Copacabana da Costa da Caparica! - a sala estava inicialmente cheia de veraneantes e, passada a pouco mais de uma hora, que dura o filme, só restavam meia dúzia de heroicos resistentes.
Agora, a proposta de um filme produzido pela televisão checa, e intitulado «Verão Quente em Marienbad», prometia uma história palpitante: no primeiro quartel do século XIX, quando, com 72 anos, o celebrado poeta Goethe aí foi passar umas semanas de puro lazer, apaixonou-se por Ulrike, uma rapariga de 19 anos, que dele se tomou por assolapada paixão.
Milan Cieslar, o realizador, aproveitou para vestir o filme com alguns dos mais conhecidos estereótipos do romantismo, mormente a identificação entre os estados de alma da protagonista e as manifestações tempestuosas da natureza. E explorou o lado feminino da vingança das mulheres repudiadas, dispostas a recorrerem aos mais baixos truques para concretizarem a compensação do seu despeito. Mesmo servindo-se, e fazendo sofrer, quem mais deveriam amar.
O escândalo agita a pequena cidade e o poeta vê-se obrigado a partir para que o prestígio não seja beliscado. A pobre da rapariga abandonada continuará a amar perdidamente o trânsfuga, mesmo muitos anos depois dele ter desaparecido e o século XX quase lhe bater à porta.


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