terça-feira, setembro 19, 2017

(DIM) A experiência de psicologia social, que tanto revelou sobre os comportamentos humanos

Dois homens chegam ao mesmo tempo à porta do laboratório onde servirão de cobaias a uma experiência científica: à sorte distribuem-se nos papéis disponíveis, o que significa um fazer de aluno e o outro de professor.
Separados em salas diferentes, o «professor» fará perguntas ao «aluno» e, se ele responder erradamente, puni-lo-á com um choque elétrico, inicialmente fraco (45W), mas violentamente forte no final (450W).
Semanas após semanas os testados vão-se-sucedendo nas salas, com o «professor» a ser sempre diferente e o aluno o mesmo. Porque a experiência só está a acontecer em aparência: é o comportamento dos que fazem o papel punitivo a ser dissecado pelo autor do projeto, o psicólogo Stanley Milgram. A conclusão do estudo - quando publicado! - chocará a América: apesar de terem a noção de estarem a infligir dor ao «aluno», os sucessivos «professores» vão quase todos até ao final, sem se escusarem a prosseguir no que adivinham tratar-se de um ato de tortura.
Numa altura em que Eichmann está a alegar a sua inocência no Holocausto, porque apenas se limitara a acatar as ordens dos seus superiores hierárquicos, Milgram demonstra ser esse o comportamento da generalidade dos americanos quando sujeitos às mesmas condições: coagidos a cumprirem um determinado desempenho quase nunca chegam a pôr em causa a sua justeza ou sequer humanidade.
É da autoria de Michael Almereyda o filme «Experimenter», que serve de biopic à vida e obra do psicólogo em causa e dá conta dos seus dilemas morais e dos ferozes ataques de que se vê alvo, quer pela imprensa, quer pelos pares. Está em causa a tendência para que se assuma o comportamento esperado pelo microcosmos social em que cada ser se encontra. Por isso as experiências de Milgram vão ao encontro de outros comportamentos de mimetismo social: se alguém numa avenida movimentada se puser a olhar para o céu, logo será imitado por uma multidão de basbaques, incapazes de perceberem a razão de ser de assim procederem. Ou os que metidos numa sala em que todos os colegas são cúmplices de quem orienta a experiência e respondem erradamente a uma questão muito simples, contrariam a sua própria evidência repetindo a resposta errada, quando chega a vez de verbalizarem a solução. Ou ainda os que entram num elevador e todos os demais parceiros de viagem se viram para o lado contrário e eles, sem conseguirem resistir, também seguem a lógica do grupo.
As experiências de Milgram dão razão à célebre frase de Gasset: não somos apenas nós próprios, mas também as circunstâncias, que nos empurram numa ou noutra direção. O tão valorizado livre arbítrio acaba por ver-se subalternizado por quanto se passa à volta.
Foi com esse tipo de experiências, que Stanley Milgram compreendeu melhor como tantos milhões de judeus foram chacinados por homens banais, que assumiram a responsabilidade pelo Mal naquelas precisas circunstâncias.
 

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