Era François Truffaut, à época crítico de cinema dos míticos «Cahiers», quem dizia que de filmes só se deveria escrever sobre aqueles de que gostávamos.
Reportando essa frase ao universo dos livros, sinto-me tentado a violar esse princípio para dizer mal de um livro que não li … nem conto vir a ler.
Frédéric Beigdeber é o tipo de intelectual francês que me irrita e faz ter saudades de um tempo que não vivi suficientemente porque não tinha ainda idade para isso: aquele em que de França vinham os ecos das opiniões e das obras de Sartre ou de Camus.
À profundidade das reflexões de tais mestres do pensamento, sucedeu-se hoje em dia uma vaga de opinadores cabotinos, que vão percorrendo as tribunas dos jornais e os estúdios de televisão para enunciarem umas vulgaridades entoadas com a prosápia de quem julga estar a distribuir pérolas a porcos. Ora, Beigdeber ou Bernard Henri Lévy são exemplos paradigmáticos dessa geração de supostos intelectuais, que causam mossa por haver lamentavelmente quem os leve a sério.
Ainda não há muitos dias Lévy via-se em palpos de aranha num programa da ARTE para explicar porque tinha sido melhor derrubar Kadhafi (e não é segredo de Estado as suas pressões de então sobre Sarkozy!) do que evitar esta Líbia a contas com o caos fundamentalista?
«Oona & Salinger», o romance assinado por Beigdeber nesta nova temporada literária, poderia ser interessante se tratasse literariamente o encontro entre a filha de Eugene O’Neill (e futura esposa de Charles Chaplin) e Jerry Salinger, um dos romancistas mais celebrados da literatura norte-americana do século XX.
Porém, se ao folhearmos o livro, encontramos “mimos” do género: “a angústia, o álcool, a solidão infantil são grandes ativos para a carreira do escritor, mas constituem os maiores defeitos para um pai de família” ou “Encontrar Chaplin em 1942, era como encontrar hoje alguém tão popular como Rihanna e tão poderoso em Hollywood como Steven Spielberg” podemos confirmar que estamos ao nível de uma margarida rebelo pinto (longe vá o agoiro!).
É certo que França continua a contar hoje com escritores muito meritórios - Le Clézio, Modiano, Orsenna, Quéfflec - que não merecem ser secundarizados só porque os Beigdebers desta vida conseguem ter uma imprensa fútil, que nos quer fazer crer que são quase génios...
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