Já passaram trinta e cinco anos sobre uma das grandes vergonhas por que passei no cinema: estava no «Nimas» a ver descontraidamente o mais recente filme de John Carpenter, quando soltei uma exclamação de susto na cena em que os fantasmas vêm matar a avó que tem à sua guarda o filho da locutora de rádio de Antonio Bay. Que a tudo assiste a partir do farol donde emite o seu programa!
Se por norma costumo ficar sentado na sala até todo o genérico final desfilar perante os meus olhos (forma tácita de reconhecimento para com quem «fez» o filme) nessa tarde fui mesmo até à última legenda e até ao acender das luzes na expectativa de não vir a ser reconhecido por quem me ouvira tal expressão de surpresa.
E, no entanto, já assimilara a ideia de estar perante uma história com fantasmas dispostos a aterrorizar uma pacata aldeia de pescadores para se vingarem do que os seus antepassados lhes teriam feito. Sabia de sobra, que as cenas de terror marcariam presença ao longo de uma boa parte da hora e meia, que ele durava.
A história passava-se em Antonio Bay, que estava prestes a celebrar o primeiro centenário da sua fundação, muito embora os seus habitantes ignorassem ou quisessem esquecer que a cidade surgira e prosperara à conta dos salvados dos navios, que propositadamente fizera naufragar. Os fantasmas, que atacavam a cidade, trazidos pelo nevoeiro, mais não eram do que as vítimas de então…
Carpenter conseguiu com «O Nevoeiro» um dos seus melhores filmes, inspirando-se em Edgar Allan Poe, Val Lewton e Robert Louis Stevenson. Nunca se lhe viu melhor talento em utilizar o grande ecrã para explorar as diferentes estratégias para suscitar o medo e a inquietação a partir de quase nada: o vento, a noite e, claro, o próprio nevoeiro.
Por isso mesmo este filme não admite comparação em termos de qualidade com uma remake mais recente, onde se recorria abundantemente a inócuos efeitos especiais. Ademais, a versão de Carpenter contava com Janet Leigh, com Jamie Lee Curtis, com Adrienne Barbeau e… sobretudo, com dois dos melhores atores norte-americanos em papéis secundários: John Houseman e Hal Holbrook!
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