Um dos filósofos, que abordou substantivamente o tema da solidão foi Rousseau, sobretudo naquele que foi o seu derradeiro título, «Rêveries du Promeneur Solitaire», escrito entre 1776 e 1778, quando se decidira afastar dos seus contemporâneos e, no silêncio do seu eremitério, serenar as dores de por eles se sentir ostracizado. E, no entanto, redigindo os pensamentos, que lhe vêm à mente, enquanto se passeia pelos campos e pelos bosques da enorme propriedade do seu benfeitor, o marquês Girardin, em Ermenonville, ele nunca deixa de pensar com simpatia nos seus semelhantes: “é por os amar, que deles fujo”.
Da leitura destes dez textos pode-se medir a originalidade das ligações reais e sonhadas, que o solitário mantém com a comunidade de que se excluiu. Não se lhe pode dissociar a experiência vivida da reflexão filosófica com alcance universal: é a vida interior que permite decifrar o outro, e os outros de si mesmo.
Pode-se, pois, dizer que as «Rêveries» foram escritas para si mesmo e não para os outros, como projeto final de mobilização do que o ser tem de mais genuíno para atingir a universalidade.
Rousseau vive na contradição entre a pertença e a exclusão, a singularidade e a universalidade, a contemplação e a ação. Por isso depressa o deixamos de considerar como o excluído da humanidade de que ele se reivindicava para o vermos como o pioneiro de uma comunidade ideal, dotada do saber do que de melhor existe no humano.
Até porque a sua propalada solidão é muito questionável: na sua permanência em Ermenonville nunca deixará de ser visitado por quantos querem com ele debater as questões levantadas pelas suas teses sobre a desigualdade e o contrato social - não esqueçamos, que a Revolução Francesa já se vislumbrava no horizonte temporal a década seguinte.
Rousseau concluirá que o Grande Solitário é Deus e só pela natureza será possível estabelecer com ele um contacto possível. Mas, infelizmente, entre a Natureza e ele sobram demasiados homens.
Em contraponto concluirá que o maior adversário da chave do humano universal será o amor próprio, produto histórico-social causador de todas as paixões alienantes. E mais longe não foi, porque, entretanto, morreu...
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