«Seis Sessões» foi a primeira longa-metragem assinada por Ben Lewin e teve a virtude de abordar subtilmente o tabu da sexualidade dos deficientes, através do caso real de Mark, um poeta condenado a viver sempre deitado desde que foi afetado pela poliomielite aos seis anos. Quando o filme começa ele já tem 38 anos e sente a necessidade imperiosa de perder a virgindade.
Para alcançar tal objetivo contrata seis sessões com uma terapeuta sexual, que lhe dará a conhecer o fascínio das sensações inerentes às diversas formas de alcançar o orgasmo.
Nem implicando um mero voyeurismo nem se deixando enredar na circunstância de um dos seus protagonistas passar todo o filme deitado, Ben Lewin é particularmente eficaz quando substitui o gesto pela palavra, frequentemente revestida de humor.
Adaptado da verdadeira história de Mark O’Brien e do seu artigo «On seeing a sex surogate», «Seis Sessões» mistura poesia, com tristeza e amargura, quando, prisioneiro do seu corpo, Mark não consegue evitar os enleios do amor, acabando por conhecê-lo com as três mulheres a quem se renderá nos últimos dez anos de vida.
Lewin consegue evitar habilmente a tendência para o miserabilismo, que justificaria muitos lenços húmidos à conta do sofrimento do «aleijadinho», através da forma como escolhe os enquadramentos dos corpos, expostos sem pudor, de frente e sem sombras: os corpos desnudados colam-se entre si e à medida da ternura despoletada pela cumplicidade entre o paciente e a terapeuta. É que iniciando-se na lógica da abordagem clínica, a relação entre Mark e Cherryl, aprofunda-se após cada uma dessas sessões, porque ele irá emancipar-se, ganhando confiança, como se pudesse vir a dispensar o pulmão de aço em que passa as noites para absorver a vida com grandes golfadas de ar.
Ela que se julgaria inexpugnável na carapaça profissional, acaba por sentir o sortilégio daquela relação, que a perturba ao ponto de fragilizar as suas certezas.
Na forma como se deixa conduzir pelos poemas de Mark e pela forma original de gerir as emoções, o filme consegue ser irreverente face a muitos tabus da nossa sociedade, contando ademais com um elenco superlativo: John Hawks credibiliza a faceta ingénua e divertida do protagonista. Helen Hunt é igual a si mesma, sempre interessante nos pequenos gestos e expressões faciais, que enriquecem a caracterização de Cherryl. E há também William H. Macy no desempenho do padre a quem Mark recorre para colher conselhos e partilhar confidências. Até porque o confronta com as contradições entre os axiomas da sua fé e as premências das circunstâncias!
De certa forma o filme reflete os impasses de uma sociedade norte-americana perturbada por tantas disfuncionalidades sexuais por efeito da influência castradora das várias igrejas, que enfatizam os perigos do pecado, quando continua a ser a busca do prazer o objetivo inconfessável do que buscam os seus crentes...
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