Normalmente os projetos de Ferrara entusiasmam-me mais como expectativa do que serão do que por aquilo que acabam por se revelar ser. No entanto admiro-lhe a persistência na concretização de um cinema muito diferente dos cânones de Hollywood.
Involuntariamente marginal a esse mundo da indústria cinematográfica, tem assinado filmes intensos sobre personagens solitários e dissonantes com o mundo em que se inserem.
“Pasolini”, que acaba de apresentar no festival de Veneza, suscita-me maior apetência do que o “Welcome in New York”, o filme anterior, que dedicara aos problemas de Strauss Kahn com a justiça americana e com a sua desenfreada libidinosidade. É que o seu ponto de partida é mais aliciante: está em causa o último dia de vida do realizador, em novembro de 1975, antes de se fazer matar por Pino Pelosi e sabe-se lá por quem mais. Nele, dá uma entrevista emblemática sobre o novo totalitarismo que se estava então a afirmar: o do consumismo que, nas décadas seguintes, tantos danos causaria ao ideal de uma sociedade mais justa e igualitária.
Willem Dafoe, habitual cúmplice de Ferrara, foi considerado como um duplo perfeito do seu personagem.
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