quarta-feira, setembro 03, 2014

FILME: «Shane» de George Stevens (1952) - I

A sessenta anos de distância já não serão muitos os cinéfilos, que se recordam de Alan Ladd como um dos principais ídolos de Hollywood. E, no entanto, na época bastava o seu nome surgir nos cartazes para multidões se precipitarem a ver os westerns em que se especializara.
Um pouco por isso mesmo este «Shane» constituiu o maior sucesso comercial do género na década de 50:  receitas de 9 milhões de dólares e nomeações para seis Óscares, melhor do que «A Desaparecida» e John Ford (que podemos agora rever em Lisboa) ou do que «Rio Bravo» de Howard Hawks.
Durante muito tempo foi até tido como o melhor dos westerns alguma vez rodados nos estúdios de Hollywood, muito embora a crítica europeia o tenha vergastado com opiniões acintosas. Hoje poder-se-á dizer que terá havido exagero de uns e de outros: «Shane» nem é obra-prima, nem tão mau filme quanto outros o pintam. Por isso mesmo merece ser revisitado.
Um ano antes, Fred Zinnemann realizara «O Comboio Apitou Três Vezes», como tentativa de intelectualização do western tradicional aprofundando a caracterização psicológica dos personagens.  George Stevens rejeitou filiar-se nessa linha de renovação do género, continuando a respeitar a simplicidade e a subtileza psicológica, oscilando entre a ingenuidade e o maniqueísmo, por um lado, com a violência e o realismo por outro, que tanto iriam influenciar Sam Peckinpah, Sergio Leone e Clint Eastwood.
Shane é um cavaleiro solitário, que chega a um vale do Wyoming e é acolhido na quinta da família Starrett a quem passa a ajudar nas tarefas quotidianas. A anfitriã, Marian - interpretada por Jean Arthur - sente-se fascinada pelo novo hóspede apesar da sua condição de esposa recatada. Mas, sem esses escrúpulos é Joey, o filho de Joe e Marian, quem dedica ao novo amigo um enorme fascínio, sobretudo quando lhe presencia a tremenda habilidade com a pistola.
Não tarda que a guerra entre fazendeiros e criadores de gado se agudize: para estes últimos qualquer vedação constitui uma ofensa à exigência de espaços livres para os seus animais.  E por isso contratam um pistoleiro temível (Jack Palance no papel de vilão) contra o qual só Shane estará em condições de contrariar.
Resulta bastante bem que o filme seja visto a partir do olhar de um miúdo de 10 anos, por contribuir para a imagem idealizada do Oeste, de um lado com heróis puros e duros e do outro com vilões ruins como as cobras.

Shane surge na vida dos Starretts no momento certo: cavaleiro solitário vindo de nenhures, vestido de roupas maculadas e com armas cintilantes, constitui o modelo do herói perfeito para qualquer miúdo. Enquanto redentor cumprirá a sua “missão divina” e voltará a partir para novas aventuras.
Nas cenas iniciais, que integram o genérico e é acompanhada pela partitura composta por Victor Young, ele surge do lado esquerdo do ecrã como se fosse um ponto em movimento no seio da imensidade potenciada por um technicolor magnífico. Se a beleza dessas imagens impressionam como se se tratasse de um mundo imaginado por Rousseau, não tardará que Joey com quem iremos ser levados a  identificar-nos, se venha a confrontar com a violência e a morte...


https://www.youtube.com/watch?v=9DVPxbsTccg

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