Gustav Deutsch, realizador austríaco, concretizou aquilo que muitos de nós sentimos perante os quadros de Edward Hopper: face às pessoas neles representadas é licito questionarmos quem são, o que estão a sentir com os seus olhares tristes e esses corpos prostrados por circunstâncias, que parecem acossá-los?
E será que o casal do apartamento nova-iorquino banhado de luz terá acabado de ter uma discussão? Porque é que todas essas pessoas parecem estar tão desoladas?
Foi para responder a essas questões, que Deutsch assinou um filme tão radical. Em estúdio reconstituiu os espaços límpidos e vazios de treze célebres quadros do mestre americano. E desenvolveu o filme em treze episódios para que esses quadros ganhem vida.
Partindo de diversas personagens femininas das telas de Hopper, Gustav Deutsch cria Shirley, uma atriz que atravessa a América desde os anos 30 até aos anos 60.
A experiência é hipnótica e alguns espectadores não deixarão de aceder ao próprio subconsciente enquanto outros cederão provavelmente ao apelo do sono.
O filme estreou há uma semana nas salas francesas e comporta uma outra novidade, que não suspeitávamos: os enquadramentos de Hopper decorrem mais de um assumido surrealismo do que de uma mera representação figurativa de um cenário. Muito do mobiliário ou das formas arquitetónicas têm dimensões inexequíveis na vida real. E tendo em conta que quem o diz é um realizador com formação de arquiteto, tendemos a acreditar ...
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