A aventura de Orly Zailer começou com a descoberta de uma fotografia dos pais, tirada nos anos 70, em que eles denotavam uma alegria radiosa. Quarenta anos depois decidiu repetir a mesma pose, ela no papel da mãe e o companheiro no do pai. É a reprodução desses dois momentos, que ilustram as fotografias deste post.
Foi assim que iniciou o projeto «The Time Elased Between Two Frames», ou seja o tempo decorrido entre duas fotografias, em que tenta recuperar no presente a magia de um instante do passado aproveitando para confrontar os protagonistas com a sua história familiar e com os que os lhes deram existência.
Colocam-se assim várias questões: quem sou? Quais as minhas origens? Quem eram os meus antepassados? Como viviam? Que pensavam? Que sentiam? Que vestígios guardam deles o meu rosto? O que se passa quando vestimos a pele dos que nos precederam?
Foi com todas essas questões em mente, que foi instalar-se temporariamente num kibutz para, partindo das velhas fotografias familiares, convocar filhos, netos e bisnetos com evidente semelhança física em relação aos antepassados para os imitarem as mesmas poses.
À partida não lhe escapava o facto de, embora partilhando patrimónios genéticos comuns, existiriam dissemelhanças óbvias entre os modelos originais e os que asseguravam a sua imitação: épocas e experiências distintas, produziriam inevitavelmente pessoas diferentes. Até porque muitas de entre elas viveram em países diferentes com os seus respetivos linguajares. Mas Orly Zailer estava interessada em perceber até que ponto as semelhanças físicas poderiam influir nas questões da identidade e na forma como assumiriam as suas decisões. As respostas definitivas ainda estão por clarificar… se é que as possa vir a encontrar.
Para melhor demonstrar esses paralelismos, ela trabalhou tecnicamente as fotografias de forma a que, apesar de captadas com máquinas muito diferentes, se assemelhassem o mais possível como se tivessem sido colhidas pelas mesmas lentes. E alcançou até agora um resultado, que dá razão a uma célebre citação de Roland Barthes no seu «Câmara Lucida», em que ele constatava a capacidade do fotografo para fazer surgir algo de invisível num rosto real. Por exemplo uma característica ancestral resultante de algo de geneticamente incontornável.
Se outro efeito não produzisse, o trabalho de Orly Zailer já conseguiu um mérito reconhecido por aqueles que com ela colaboraram: a sensação de um vínculo bastante mais forte com as suas identidades subitamente ligadas a quem terão sido os seus antecessores…
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