domingo, setembro 14, 2014

LIVRO: «la Petite Communiste qui ne souriait jamais» de Lola Lafon

O verão de 1976 trouxe para a ribalta um rosto e um nome durante os Jogos Olímpicos de Montréal: Nadia Comaneci.
Apenas com 14 anos e menos de metro e meio de altura, ela criou a própria lenda ao pôr em cheque os engenheiros programadores da Longines, que nunca tinham imaginado serem possíveis notas de 10,0 nas disciplinas de ginástica. Ora, por várias vezes, a perfeição das exibições de Nadia surgiu premiada com o comprometedor 1,0, muito embora todos compreendessem que era da nota máxima, que se tratava. Mas o outro lado desse sucesso traduzia-se na negação da infância sujeita aos ditames do treinador, o que explica o rosto sempre sério, sem sombra de um sorriso.
Sem tal suspeitarem em muitas das adolescentes da  época imaginaram-se dotadas desses músculos de aço, dos movimentos como se o corpo fosse feito de borracha e tivesse molas nos pés.
Ceausescu, o conducator romeno, transformou-a na heroína da juventude comunista sem prever que, anos depois, já o regime estava em cacos, ela fugiria para a Hungria e daí para os EUA.
Lola Lafon nasceu em 1975 e não consegue recordar as imagens de Montréal, mas no seu quarto em Bucareste contava, inevitavelmente, com o poster dela. Nada mais natural que, depois de nos romances anteriores ter feito da abordagem do corpo feminino, do movimento como vocabulário da vida e da confrontação leste-oeste os temas de eleição, tenha decidido dedicar a Nadia aquele que publicou no início deste ano.
O propósito não é o de fazer uma biografia da antiga ginasta, já que nem sequer entrou em contacto com ela para validar ou corrigir algumas das conjeturas sobre ela formuladas. O que lhe interessa, verdadeiramente, é o fenómeno em si e o impacto numa sociedade onde o ditador exigia explosões demográficas, mesmo sem resolver os condicionalismos do racionamento alimentar.
Trata-se, pois, de uma obra de ficção, onde Lola acaba por valorizar preponderantemente as suas próprias origens, questionando-as. Porque, nas três viagens anuais, que costuma levá-la de volta ao país em que nasceu, vai encontrando cada vez mais jovens com um progressivo ceticismo em relação à sociedade capitalista em que se sentem acossados pelo desemprego e por todos constrangimentos que os impedem de ser felizes. 

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