segunda-feira, junho 25, 2018

(DL) «Uma Casa no Planalto» de Erskine Caldwell


Há quem considere que a obra literária de Erskine Caldwell entrou em declínio depois da Segunda Guerra Mundial, quando regressou do leste europeu onde estivera como repórter. Mas convenhamos que, em plena Guerra Fria, a crítica motivada por preconceitos ideológicos passou a olhá-lo de esguelha devido à nunca negada simpatia do autor pelos ideais comunistas. Razão que explica o facto de, antes do 25 de abril, ele ser lido atentamente por quem buscava a queda do salazarismo, e depois ter encontrado pouco interesse dos editores maioritariamente avessos a porem nos escaparates os títulos, que pudessem estimular o mesmo tipo de ânsias transformadoras.
«A Casa do Planalto» surgiu em 1946 e passa-se naquelas zonas rurais da Geórgia onde a antiga aristocracia algodoeira, mostrada no seu esplendor em «E Tudo o Vento Levou», já degenerou o bastante para revelar-se ainda mais odiosa na opressão dos negros e dos brancos pobres, porque acicatada pela noção de se sentir à beira de empurrada para os caixotes do lixo da História. Ademais a riqueza de outrora vai sendo consumida nos seus vícios, sobretudo nos do jogo, que os torna fáceis presas dos bancos aos quais tudo vão hipotecando.
Lucyanne teve a má sorte de deixar-se seduzir por um desses latifundiários falidos - Grady Dunbar - e mudar-se, contra os conselhos paternos, de Atlanta para a zona rural onde ele tem a decrépita mansão. Desprezada pelo marido, insultada pela sogra, tudo faz para reverter a situação, fazendo-se aceitar por um e por outro. Mas as humilhações constantes não bastam para a convencer do erro até encontrar Grady na barraca de uma das criadas negras, dando continuidade ao hábito dos senhores das terras considerarem normal tomarem as empregadas de cor como recetáculos do seu sémen. Desesperada, a rapariga tenta fugir para tão longe quanto possível dali, esfarrapando o vestido em cercas de arame farpado até ser recolhida em casa de Woody Harrison, um dos capatazes da quinta.
Criam-se então as condições para um triângulo amoroso, porque Brad, o filho de Woody, está enamorado da patroa e quer impedir Grady de a recuperar, tanto mais que lhe adivinha os propósitos agressivos. E tem a concorrência de outro Dunbar, Ben, o primo de Grady, que se formara em advocacia e se tornara defensor dos negros nos processos judiciais que os motivavam a cessar com as injustiças de que eram alvo. O futuro da rapariga passará por um deles.
Numa progressiva escalada de tensão tudo se resolverá na noite em que o jogador a quem Grady deve dinheiro o vem procurar e ambos se matam a tiro, deixando o trio entregue ao que se seguirá. E o revoltado Brad verá Lucyanne dele desinteressado, compreendendo-se preterido pelo estigma da sua pobreza.
O menos interessante nesta abordagem da luta de classes no sul racista dos Estados Unidos reside no arrependimento de Grady quando, moribundo, pede perdão à maltratada esposa pela forma como a destratara. Convenhamos que esse remorso é pouco credível em quem passara todo o romance a portar-se como um pérfido biltre.

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