segunda-feira, junho 25, 2018

(DIM) «Pornocracia» de Ovidie (2017)


Durante dezasseis anos Ovidie trabalhou na industria do cinema pornográfico tornando-se numa das mais fundamentadas críticas da forma como ela entrou em declínio com a difusão gratuita de conteúdos pela net. Quão distantes vão os tempos - porém ainda recentes! - em que o negócio proliferava com a distribuição garantida pelos vários canais de venda de DVD’s ou de exibição em ecrãs especializados. Em quem ela entrevistou para este filme surge o consenso sobre as vantagens não negligenciáveis dos padrões desse passado definitivamente encerrado: esses conteúdos podiam ser mais facilmente restringidos a crianças e adolescentes, que hoje têm na net a sua deformada iniciação ao que significa uma sexualidade normal, porque ainda não tomada de assalto pela escalada progressiva nas mais inconcebíveis perversões. Hoje surgem profusas demonstrações das várias parafilias relacionadas com o sexo, que se arriscam a ser consideradas como normais pelas crianças e adolescentes, que as consomem. Ademais a mulher, que tanto tem porfiado pelos seus direitos, é normalmente tratada com violência, potenciando-se assim a imitação das agressões vistas na tela no relacionamento entre namorados, ou mesmo em situações de violações abjetas como é exemplo a mediática La Manada.

O filme de Ovidie vai, porém, mais longe e acaba por denunciar o negócio da Pornhub, YouPorn e outros sites do género como meras plataformas de branqueamento de capitais, razão porque funcionam economicamente através de paraísos fiscais e relacionam-se com fundos de investimento associados aos grandes bancos da City e de Wall Street.
O filme tem, pois, o condão de mostrar o capitalismo selvagem na sua expressão mais radical, mas bem real: atores, e sobretudo atrizes, sujeitos a jornas infindáveis por magros salários, o desconhecimento da identidade dos mafiosos, que exploram o negócio e lhe recolhem os escandalosos lucros e a indiferença dos poderes públicos em regularem uma atividade, cujos danos são imprevisíveis, quer economicamente, quer nas deturpadas «lições», que dão a quem do Amor ainda não descobriu que os sentimentos são bem mais relevantes do que a mecânica dos corpos em interação.

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