sexta-feira, junho 08, 2018

(DL) Esta tarde é lançado o mais recente romance de Maria Alzira Cabral


Há muitos anos, quando era jovem e começava a descobrir os primeiros passos na vida a bordo dos navios mercantes de bandeira portuguesa (hoje espécie quase extinta!), conheci um eletricista dado a falar sempre em rimas e que, ao acabar os turnos na Casa das Máquinas, costumava despedir-se sempre da mesma maneira: «O meu nome é Avelar/ e quem por mim demandar/ na messe me vai encontrar!».
É em homenagem da sua memória - pois por certo, já há muito terá deixado o mundo dos vivos! - que digo: quem nesta tarde me quiser procurar, na Biblioteca Orlando Ribeiro, em Telheiras, me irá encontrar! Porque será ali que, pelas dezanove horas, ocorrerá o lançamento do romance «Um Deus de Pés Descalços» de Maria Alzira Cabral.
A autora atribuiu-me o privilégio, mas também a responsabilidade de lhe apresentar a obra, e o agrado por tal missão revela-se tanto mais fácil, quanto ela me deu um enorme prazer na sua descoberta. Porque, falando do que em todos nós é mais comum - a pertença a uma família - também se amplia nos temas ao que nos dita a sociedade: as alegrias e as tristezas, os entusiasmos e as revoltas pelas desigualdades, os amores e desamores. E como não ficar entusiasmado - eu a quem os amigos sempre conheceram a costela cinéfila! - com as constantes referências a filmes, que me foram tão ditosos como «O Feiticeiro de Oz», quando era miúdo e me pus a sonhar como poderia alcançar o outro lado do arco-íris, ou o «Blade Runner», que me fez temer distopias passíveis de olharem como subversivos os mais legítimos afetos, sem esquecer de permeio um dos mais belos e esquecidos filmes da história do Cinema, «O Ano Passado em Marienbad» onde a frigidez esfíngica de Delphine Seyrig ameaçava estilhaçar um tempo parado, que só nele deixaria prisioneiros quem com tão estática situação se sentiria confortado.
Emílio, que sonha com filmes, acaba por cumprir na escrita a vontade de dar razão à citação inicial de Claudio Magris. Com uma achega: não só ela colmata os espaços brancos da existência de quem escreve, como também o suscita em quem lê. É que um bom romance vem ao encontro da apetência genética para que nos contem histórias capazes de nos evadirem das rotinas e interroguem as quotidianas inquietações e aspirações. Abrindo portas, quando se fecham janelas, mesmo nas alturas mais complicadas, as que nos fazem sofrer, quando se iluminam soluções imprevisíveis, inesperadas.
Fica, pois, o convite para que venham conhecer uma escritora cujos romances revelam uma vida rica em experiências e emoções, e o quanto estas páginas me deram jubilatórios momentos. Os mesmos que justificam o encontro com muitos leitores...

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