quinta-feira, junho 28, 2018

(DL) «Pela Estrada Fora» de Jack Kerouac - um livro para reler este verão


Em 22 de maio de 1951 Jack Kerouac escreveu a Neal Cassidy dando-lhe conta de ter concluído o relato da sua recente viagem pelo território norte-americano. Para a lenda ficaria a tese de tal texto ter sido escrito em apenas três semanas, ou seja entre 2 e 22 do mês anterior, nela havendo ao mesmo tempo algo de mentira e de verdade: por um lado Kerouac escrevera nesse intervalo temporal , e num ritmo frenético, a primeira versão, não a contemplando com parágrafos, ou capítulos, inspirando-se nos sons do bebop (totalmente em contracorrente ao swing das grandes bandas de jazz) nesse período. Confrontou-se, porém, com a escusa dos editores em lhe aceitarem uma escrita tão diferente da canónica, por muito que nela pressentissem o carácter vanguardista. Daí a razão para que o tenham instado a, durante seis anos, a retrabalhar até chegar à publicada.
Quando, anos depois, se encontrou num celeiro - e em circunstâncias propícias a um tratamento literário! - o célebre cilindro com o rolo ininterrupto, onde Kerouac registara de forma automática as memórias das suas experiências, puderam-se comparar ambas as versões concluindo-se que na primeira ele registara os verdadeiros nomes de alguns dos seus protagonistas em vez dos pseudónimos (ele próprio em vez de Sal Paradise, Neal Cassidy e não Dean Moriarty, Allen Ginsberg enquanto Carlo Marx e William Burroughs onde depois surgiria Old Bull Lee). Ademais algumas das principais cenas explicitas de sexo homossexual foram por ele retiradas do  relato final por as pressupor demasiado ousadas para os leitores desses anos cinquenta.
O romance foi, sobretudo, o texto fundador da beat generation, manifesto de uma geração cansada, até mesmo esgotada, pelas vicissitudes de então.  Truman Capote, um dos conhecidos detratores dessa inovação criativa diria que, em vez de literatura, Kerouac limitara-se a fazer um exercício de datilografia. Mas não conseguiria impedir muitos dos novos autores de replicarem um estilo, que se associaria a alguns dos principais contornos da contracultura da década seguinte.
Quem pouco aproveitaria desse reconhecimento seria o próprio Kerouac, que cairia numa depressão fatal, afastando-se dos antigos cúmplices, particularmente de Ginsberg, a quem acusava da ambição de se tornar numa figura pública. E quando o budismo virou moda, desgostara-se pelo papel que desempenhara na difusão dessa filosofia de vida...

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