quarta-feira, junho 06, 2018

(DL) A Patagónia de Bruce Chatwin


É uma terra de extremos, cuja evocação logo faz disparar a imaginação. Situada na zona meridional da América do Sul a Patagónia foi uma das últimas regiões terrestres a conhecer a ocupação humana. É terra de desmesura nas suas dimensões, ventos, gelos e fogos vulcânicos. Têm estradas com retas infinitas direcionadas aos longínquos cumes andinos e aos lagos de um azul como não se encontra em mais nenhum lugar.
Em 1974 um jovem britânico de 34 anos - Bruce Chatwin - abandonou o quotidiano de especialista em História da Arte para demandar esses grandes espaços com que sonhava desde a infância. Durante seis meses percorreu mais de cinco mil quilómetros e conheceu paisagens grandiosas, a pretexto de uma busca interior, que refletiria no seu primeiro título em forma de livro - «Na Patagónia» - enquadrável num género, que viria a conhecer doravante um enorme sucesso comercial: a literatura de viagens.
Chegando às livrarias em 1977, o livro muito contribuiria para o progressivo prestígio da região, que se tornou no destino ideal para as novas gerações de aventureiros, também elas apostadas em perscrutar a magia da sua natureza selvagem. Sedu-los porventura as descrições de Chatwin a propósito de dias-e-dias de viagem por extensões infinitas sem encontrar vivalma, a não ser as silhuetas esquivas dos nandus ou as elegantes correrias dos guanacos.
Seguindo para norte, pela mítica estrada 40, que ladeia a cordilheira, Chatwin procurou detetar a presença dos fantasmas de outros antecessores, também eles entusiasmados com a descoberta de paisagens de cortar o fôlego. Em Esquel encontrou os traços do famoso Butch Cassidy cuja cabeça fora posta a prémio em 1901 nos Estados Unidos e se vira obrigado a refugiar-se tão longe. A cabana que ele e Sundance Kid construíram para fundarem um rancho ainda está de pé e pode ser visitada. Naquele lugarejo. onde procurou fazer-se esquecido pelo mundo, o antigo fora-da-lei encontrou semelhanças com a terra natal, no Utah.
Em Gaiman, já perto do oceano Atlântico, Chatwin encontrou uma pequena comunidade descendente de emigrantes do País de Gales, que lhe lembraram a primeira viagem de comboio, quando tinha nove anos. Mais do que o chá das cinco da tarde ou as casas feitas em tijolo vermelho foi o reencontro com as mais gratas reminiscências da infância, que entusiasmaram o viajante, tanto mais que passou o aí Natal  assistindo a uma cerimónia religiosa em inglês, que lhe acentuaram esse intimo regresso ao passado.
Outro momento mágico da viagem foi o que viveu nas margens do Lago Posadas, com uma plêiade de cores irreais, capazes de lhe sugerirem emoções com o seu quê de místico, de fantástico. Tanto mais que, muito perto, ficam alguns dos mais espantosos vestígios das antigas civilizações ameríndias.
A Patagónia influenciaria Chatwin de uma forma indelével, tornando-o num nómada sem vontade de se vir a fixar onde quer que fosse.

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