segunda-feira, junho 18, 2018

(AV) O MONA - Museu de Arte Antiga e Moderna de Hobart


No único verão que passei na Austrália, percorrendo-lhe a costa norte e toda a do Queensland a leste, nunca me aproximei sequer da Tasmânia. Situada mais a sul, a ilha era entendida até há pouco tempo pelos próprios australianos como os confins do seu território, sem nada de especial, que recomendasse a visita. E, no entanto, desde 2011, esse desinteresse deixou de fazer sentido, porque Hobart, a sua capital, passou a contar com um Museu fascinante: o Mona – Museum of Old and New Art.
Criado por um génio das matemáticas, que utilizou o engenho para ganhar dinheiro em casinos de todo o mundo, conta com dotações financeiras privilegiadas do seu patrono. Daí que alguns curadores percorram os cantos do mundo para angariar novas peças para a coleção.
O acesso faz-se de barco a partir do cais do outro lado da baía. Tão só chegados á margem onde se situa o museu, os visitantes têm de subir mais de 400 degraus para acederem ao elevador, que os mergulhará nas entranhas da Terra, até às profundidades onde outrora se procedia á extração mineira.
Ainda antes de acederem às salas de exposição, os visitantes são convidados a passarem pelo bar para se dessedentarem. Logo entram num amplo espaço onde se projeta uma cascata de palavras, todas elas integradas na lista dos que, nessa altura pesquisam a internet. Essas palavras mais frequentes nas buscas a nível mundial muito esclarecem sobre as idiossincrasias coletivas nos tempos atuais.
Nenhuma peça está identificada, quer quanto ao título, quer quanto ao autor, misturando-se as épocas nas que se apresentam nas várias salas - a ideia é possibilitar a apreciação sem os preconceitos suscitados pelas informações que sobre elas se afixasse,! - mas algumas são mais facilmente identificáveis e tidas como importantes na identidade do Museu
«Snake», obra de Sidney Nolan, datada de 1970-72, é uma homenagem à cultura aborígene, abrangendo as paredes de uma vasta sala onde as centenas de quadros compõem o efeito de evocação do ofídio, tão simbólico nas crenças primitivas de quem habitava a ilha antes da chegada dos ingleses.
Há também a «Galeria de tecidos com caixão de Iret-Heru-Ru», do final da 26ª dinastia, c. 600–525 aC.
Noutra sala vê-se a «Biblioteca Branca» de Wilfredo Prieto, de 2004-2006, com lombadas brancas a evocarem uma cultura dominada pelo vazio de ideias, de conhecimentos, de emoções.
«A Cloaca Professional» de Wim Delvoye (2010) recicla todos os restos de comida do restaurante do museu, processando-os quimicamente nos dias seguintes como se percorressem todo o sistema digestivo e concluindo no incontornável desenlace. E há, enfim, o «Carro Gordo» de Erwin Wurm (2006), que revela o lado kitsch da sociedade de consumo, que agiganta na sua gula tudo quanto possa abocanhar. Daí esse Porsche vermelho adiposo, sem a elegância glamourosa do modelo original.
Com esta nova instituição cultural Hobart viu crescer o número de turistas que visitam a cidade e garantem quase quatrocentas mil entradas anuais nas suas vastas e labirínticas salas.

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