segunda-feira, junho 11, 2018

(DIM) «Lisboa: crescer sob um céu inconstante» de Catarina Mourão (2003)


Quinze anos depois de ter sido rodado, este filme de Catarina Mourão - encomendado pelo canal franco-alemão ARTE para uma das suas noites temáticas - serve, sobretudo, para comparar o que era o Portugal do início do milénio com o que existe atualmente. Na época, a euforia da Expo 98 já passara, deixando como efeito mais óbvio uma cidade gentrificada, habitada por muitos africanos das ex-colónias e brasileiros, que aqui haviam sido atraídos pelas oportunidades de trabalho.
Tendo três jovens como protagonistas - um trabalhador nos cacilheiros, um desenhador e uma advogada estagiária - vemo-los contar quão escassas eram as oportunidades para se autonomizarem das respetivas famílias, ao mesmo tempo que sentiam muito próximo o problema das drogas, que fazia então de Portugal o segundo principal consumidor europeu.
Havia indignação com o conservadorismo coletivo, demasiado condicionado pelos valores do salazarismo, apesar de terem decorrido quase trinta anos desde a Revolução de Abril. A Igreja, que fora dileta cúmplice da ditadura ainda revelava tal importância, que a sua militância fora decisiva para que o referendo sobre o aborto acabara de resultar na manutenção da sua ilegalidade. Como então esperar que o (des)governo de Durão Barroso mudasse o que quer que fosse no sentido mais positivo?
Afinal quinze anos terão bastado para minimizar os efeitos das drogas e legalizar a interrupção voluntária da gravidez. A gentrificação mudou de características com os turistas a substituírem os proletários, que tinham dado o corpo ao manifesto por uma bolha imobiliária, marcada pela construção desenfreada de novos bairros suburbanos. Mas, mesmo depois de uma fase entroikada, o país revela-se bastante melhor do que o de então. Sobretudo, porque a atual maioria parlamentar reabriu algo que, então, parecia inviabilizar-se: a esperança.
Só a Igreja Católica continua igual a si mesma, como se viu recentemente no debate sobre a eutanásia.

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