Há histórias verdadeiras mais grotescas do que se as tivéssemos inventado. «A Matter of Time», que o suíço Alex Capus escreveu em 2007, é um romance histórico e de aventuras sobre o sucedido em África há cerca de cem anos.
Em 1913 o Gabinete Colonial do Reich enviou três operários dos estaleiros navais Meyer da cidade de Papeburg para Emsland no Lago Tanganica, para aí montarem um barco a vapor com 67 metros de comprimento, o «Graf Götzen». O livro de Capus acompanha-os e transmite-nos a visão que eles vão tendo sobre um mundo até então completamente desconhecido.
Após o lançamento à água na Alemanha, o barco fora seccionado nas suas peças e embalado em cinco mil caixas enviadas por barco de Hamburgo para Dar es Salam e depois, por via férrea até Kigoma, o único porto existente no lago africano.
Esta ambiciosa proeza técnica tinha por objetivo alcançar a supremacia alemã no lago e em toda a vasta região circundante. Só que os rivais britânicos tinham planos semelhantes e encarregaram o excêntrico tenente Geoffrey Spicer Simon de enviar duas canhoneiras, também desmontadas, para a foz do rio Congo. Daí, primeiro por comboio e depois às costas de carregadores os dois barcos deveriam percorrer trezentos quilómetros até chegarem ao lago, serem montados e afundarem o barco alemão.
A Primeira Guerra Mundial inicia-se precisamente quando ambas as odisseias estavam em vias de se concluir à custa de múltiplas vítimas. Por isso o Lago Tanganica tinha condições para transformar-se num cenário de eleição da época até porque o conflito conheceria tão grande dimensão no continente africano, que as perdas portuguesas ali foram superiores às verificadas com o Corpo Expedicionário enviado para a Flandres. No entanto, em vez de uma batalha naval a sério tudo se resumiu a uma ridícula escaramuça, concluída de forma pouco gloriosa: os próprios alemães decidem afundar o navio, porque o avanço britânico por terra os obrigava a abandonar as margens do lago.
Depois da guerra, já em 1924, o «Graf Götzen» voltou a ser montado e tornou-se célebre no cinema com o filme «African Queen». Era dele que os personagens representados por Bogart e Hepburn escapavam enquanto iam caindo de amores um pelo outro.
Hoje, mais de um século passado, o velho navio alemão ainda navega no lago com o nome de «MS Liemba».
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