Dos realizadores norte-americanos de documentários Joshua Oppenheimer está a ganhar justa relevância por filmes realizados sobre um dos grandes genocídios do século XX: a chacina de comunistas, ou pelo menos assim considerados, na Indonésia de 1965 quando Suharto - com o apoio da CIA - se aprestou a derrubar Sukarno, que ganhara grande prestígio internacional como um dos líderes do Movimento dos Não Alinhados.
Ainda hoje não se consegue ter uma ideia precisa do número de milhões de pessoas assassinadas de um dia para o outro por terem ideias contrárias às que o novo ditador pretendia impor ou até por terem disputas sem nada de político com vizinhos subitamente dotados do poder de vida ou de morte sobre quem não estava nas suas graças.
Há dois anos, Oppenheimer conseguira impressionar muitos espectadores com o seu “The Act of Killing” em que convencia os assassinos de há quase meio século a demonstrarem como tinham perpetrado os seus crimes. Sentindo-se autênticas vedetas de filmes de ação, eles detalhavam os seus pretéritos gestos, sem compreenderem como se conseguiam desmascarar no carácter hediondo da sua personalidade
Tinha-se, então, constatado que muitos deles ainda eram tidos como «heróis» nas suas vilas e aldeias, muito embora fosse percetível o silêncio das famílias das vítimas.
Ora, consciente de que dificilmente conseguiria voltar à Indonésia depois da estreia do seu filme, Joshua Oppenheimer rodou no intervalo entre o fim da rodagem e a sua estreia um outro documentário em que são precisamente esses familiares dos assassinados quem aqui prestam testemunho.
Agora estreado no Festival de Veneza, «The Look of Silence» constitui um novo libelo contra um crime que a História ainda tarda em condenar. É que, de facto, só muito recentemente o governo de Jacarta começou timidamente a reconhecer terem sido cometidos erros durante esse período negro. Mas o verdadeiro julgamento dos criminosos ainda está por fazer!
Sem comentários:
Enviar um comentário