Mais do que pelo romance de Prosper Mérimée, conhecemos a história de «Carmen» pelo libreto de Henri Meilhac e Ludovic Halévy para a ópera de Bizet.
Ao realizar o filme em 2003, Vicente Aranda voltou ao romance original, transformando o autor num dos seus principais personagens, já que o faz confidente de um condenado à morte.
Começamos por conhecer José Lizarrabengoa, que tem por alcunha “Navarro”, porque nascera 23 anos atrás numa pequena aldeia dessa província. Quando Carmen, uma das operárias da fábrica de tabaco se mete com ele já está há cinco anos no Exército e chegou a oficial. E tem de a levar depois de uma contenda com as colegas com quem tivera uma desavença por a chamarem cigana.
Há, igualmente, Prosper Mérimée, um escritor que tem um gosto muito particular por explorar os mistérios do coração humano. Em 1830 aventurara-se pelos campos espanhóis para investigar sobre as duas cidades, que tinham conhecido tempos gloriosos durante a ocupação islâmica: Córdova e Granada.
Ao percorrer os campos dessa região andaluz encontrara-se pela primeira vez com esse mesmo José Lizarrabengoa já convertido em vagabundo. Na altura o criado informara Prosper sobre a identidade desse assassino impiedoso com a cabeça a prémio.
Já em Córdova, conhece uma estranha mulher, que se lhe anuncia como serva de Satanás e lhe lê o destino nas cartas. Mas, quando o está a fazer chega José, que denuncia uma familiaridade indisfarçável com essa Carmen.
Alguns dias de ausência na cidade fazem-no perder as novidades do que aí vai sucedendo, reencontrando-a animada com a prisão e condenação à morte desse mesmo José.
Visitando-o na prisão quando ele está prestes a ser executado, Prosper ouve de viva voz a sua história. Que nos faz regressar ao início do filme, a esse dia funesto em que conhecera Carmen e a prendera na sequência do desacato na fábrica. A ajuda na sua fuga valera-lhe o castigo, que deitara a perder os cinco anos irrepreensíveis até então dedicados à sua carreira militar. Agora, na prisão, embora o revoltasse a forma como ela o enganara, não a conseguia tirar do pensamento.
Ao escritor conta como após o castigo devido ao su papel na fuga dela fora reencontrar Carmen dedicada ao ofício de prostituta. Ela incitara-o a abandonar de vez de vez a sua carreira militar, mas, no entretanto, foi empurrando-o cada vez mais para o abismo, obrigando-o a fazer vista grossa à passagem dos contrabandistas, quando estava de guarda.
Uma noite, quando surpreende o seu tenente com Carmen no bordel, pega na espada e mata o rival. É esse o momento em que tem obrigatoriamente de mudar de vida, juntando-se ao bando de contrabandistas para o qual ela lhe envia uma recomendação.
Quando a revê nas montanhas julga-se à beira de conseguir o que mais lhe importa na vida: ter Carmen só para si! Mas ela é propriedade do Tuerto, o chefe da quadrilha que a comprara aos 12 anos e, sobretudo, enamora-se de Lucas, um célebre toureiro, que ameaça torná-lo num mero figurante entre os que a rodeiam.
Numa escaramuça incendiada pelo ciúme, José mata Tuerto à navalhada. Relapso no assassinato, ele considera ser essa a altura decisiva para fazer um ultimato a Carmen: ou ela viverá doravante apenas com ele ou morrerá. Ora, ela escolhe essa segunda alternativa entregando-se com um sorriso à sua navalha.
À despedida do escritor, José acaba por reconhecer que, apesar de responsável por o ter feito cair na desgraça, ele nunca lamentaria ter conhecido aquela que tanto amara.
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