sábado, agosto 16, 2014

DOCUMENTÁRIO: «Camaradas Cosmonautas» de Marian Kiss (2009)

No final dos anos 70 o bloco de países do leste europeu estava a abrir brechas cada vez mais notórias, que anunciavam a viragem verificada em 1989. É com a consciência da necessidade de travar esse processos, que os responsáveis pela propaganda soviética encontraram uma forma de incentivar um sentimento internacionalista nos países pertencentes ao Pacto de Varsóvia: levar para o espaço um astronauta de cada um desses países. Foi assim que um checo, um polaco, um alemão de leste, um búlgaro, um húngaro, um vietnamita, um romeno, um cubano, um mongol e um afegão foram incluídos no programa espacial Intercosmos, recebendo uma preparação de quase dois anos até estarem em condições de tripularem uma das naves Soyuz.
Marian Kiss, a realizadora deste documentário, sentiu-se então fascinada pelo seu compatriota, o húngaro Bertalan Farkas. Numa entrevista ela conta: “na minha infância comunista, o cosmos tinha uma grande importância. Julgávamos poder tocar o futuro com um dedo. O infinito parecia estar às portas da nossa aldeia.”
Por isso, trinta anos depois decidiu ir procura-lo não só a ele, mas também aos demais nove cosmonautas, rodando um documentário interessante sobre a época dourada dos voos espaciais.
Marian Kiss entrevistou-os a todos, traçando-lhes os respetivos percursos biográficos, desde a iurta familiar no meio das estepes asiáticas à aldeia afegã ainda distante do terror talibã até à consagração do regresso após o voo em torno da Terra.
Durante hora e meia são-nos oferecidas muitas imagens de arquivos, que ilustram bem a diferença entre o glamour de um passado mítico e a comezinha realidade presente. Porque se alguns deles ainda usufruem as regalias de continuarem a ser reconhecidos nos seus países - que se mantém formalmente como comunistas, como sucede em Cuba ou no Vietname - os demais vivem entre a indiferença ou o ostracismo dos seus concidadãos. Nesse aspeto avultam os exemplos do astronauta húngaro, hoje condenado a uma pensão miserável, do mongol, que teve de pôr na sua sala a nave espacial outrora clocada com toda a pompa no, entretanto extinto, Museu de Ulan Bator ou o afegão que, exilado na Alemanha, ganha a vida como tipógrafo.



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