Este ano temo-nos queixado do verão atípico e das águas muito frias nas praias de norte a sul.
Ouvidos os meteorologistas ficamos a saber que o anticiclone dos Açores anda a noroeste de onde deveria andar abrindo o caminho a ventos particularmente incómodos.
Mas será só isso ou não estaremos perante sintomas evidentes das alterações climáticas, que estão a ser detetadas um pouco por todas as latitudes?
No documentário «Autour du monde sur les traces du climat» de Joerg Altekruse e Liz Courtney, a jornalista holandesa Bernice Notenboom serve-nos de cicerone numa viagem à volta do mundo em noventa minutos. Muito interessada nas questões climáticas ela leva-nos às regiões do planeta mais afetadas pelo aquecimento global, mostrando as suas consequências concretas.
Na Groenlândia o progressivo desaparecimento da calote polar altera o quotidiano dos animais e dos esquimós. Na Amazónia a seca vai progredindo em zonas cada vez mais extensas da floresta ainda aparentemente luxuriante. Nas margens alemãs do rio Elba as casas ribeirinhas são inundadas pelo aumento do caudal. Nas faldas dos Himalaias as populações ora veem-se tragadas por enxurradas, ora perdem culturas nos solos cada vez mais secos e pobres.
Mas, para além desses exemplos mais evidentes outros menos óbvios já estão a declarar-se. No Alaska Bernice debruça-se sobre os riscos do degelo do permafrost, essa camada de solo gelado há muitos milhares de anos, que ameaça verter para a atmosfera toneladas de dióxido de carbono e de metano. Segundo o cientista Ben Abbott a libertação desses compostos equivaleria a cento e oitenta anos de emissões de combustíveis fósseis e perturbariam o ecossistema planetário de forma imprevisível.
Esta volta ao nosso mundo em perigo, que vai passando por quase todos os continentes, pode parecer algo confusa e redundante, mas permite compreender a crise climática como um problema global, onde tudo se interliga: se o desaparecimento da calote polar poderia causar a submersão de Nova Iorque, Xangai ou Roterdão, a modificação das correntes marinhas do Atlântico poderia resultar numa mini-era glaciar na Europa.
Após estas constatações tão alarmistas e tão bem demonstradas, o desenlace do filme perde força na ligeireza e falta de convicção com que sintetiza quanto terá previamente mostrado. Mas, ainda assim, só se pode qualificar de idiotas os que negam uma evolução, que parece irreversível, porque ligada ao consumismo obsessivo lançado por uma sociedade capitalista para a qual a importância das mais valias inibe qualquer inquietação com as consequências gravosas da sua miopia no médio prazo.
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