sábado, agosto 16, 2014

DOCUMENTÁRIO: «Custer, uma lenda americana» de Stephen Ives (2012)

Era eu muito miúdo, quando vi pela primeira vez «Todos Morreram Calçados», o filme rodado em 1941 por Raoul Walsh com Errol Flynn  a fazer de General Custer.
Como era ainda muito inocente, comovi-me com a morte do herói em Little Big Horn e nunca mais esqueci  a banda sonora da autoria do sempre excelente Max Steiner (que já assinara a de «E Tudo o Vento Levou»).
Nessa altura não sabia ainda o que era colonialismo, genocídio ou sequer que provavelmente Flynn andava por essa altura a espiar a América por conta dos nazis.
Foi com essa ambivalência entre a ideia de herói tal qual a via em criança e a realidade bem mais complexa trazida pela consciência política da juventude, que regressei à biografia de Custer desta feita através deste documentário de Stephen Ives.
O ponto culminante da vida do general aconteceu a 25 de junho de 1876, quando ele e 261 soldados às suas ordens foram massacrados pelos guerreiros do chefe sioux Sitting Bull na batalha de Little Big Horn.
Esse desenlace chocou a América: como fora possível que um dos maiores heróis da Guerra da Secessão fosse vencido por uma horda de «selvagens»? Esse desastre militar permitiu, porém, que o jovem general de cavalaria atingisse o pico da sua glória e se convertesse numa lenda da “conquista” da América.
Mediante testemunhos de historiadores e de fotografias de arquivos, o documentário retrata o percurso de exceção do líder do 7º regimento de cavalaria desde a turbulenta escolaridade até à frequência da academia militar de Westpoint, passando pelos reconhecidos feitos na guerra de Secessão e culminando no seu trágico fim. Desenha-se assim o retrato de um homem ambivalente, impetuoso e irreverente para com a hierarquia, mas também o devotado esposo e o sagaz comunicador.
Com o seu sacrifício tornou-se até aos anos 70 do século XX na encarnação da coragem e do patriotismo até ver esse prestígio empalidecer, quando os movimentos contestatários contra a guerra do Vietname passaram a filtrá-lo por outros valores, os que o converteram no símbolo do imperialismo e da opressão.
O que este documentário melhor representa é a relação ambígua dos americanos com a sua própria História...



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