No início conhecemos um casal nova-iorquino a contas com dificuldades singulares: ele está quase a sair da prisão depois de uma condenação por crimes de colarinho branco e ela sofre de perturbações psicológicas, que a levam a tentar o suicídio. É na condição de paciente, que começa a ser tratada por um psiquiatra reputado e em notória ascensão: Jonathan Banks.
Sujeita a um fármaco ainda na fase experimental, Emily parece melhorar embora mostre alguma tendência para reações sonâmbulas. Mas, uma manhã, vê-se coberta de sangue, com uma faca na mão, junto ao cadáver do marido.
Emily de nada se consegue lembrar e não tarda a criticar publicamente os métodos controversos do seu médico. Ora Jonathan não está disposto a assumir a responsabilidade pela tragédia. Por isso, para recuperar a sua degradada reputação e a confiança dos doentes, vai avançar para a sua própria investigação. Concluindo que a realidade é muito mais complexa do que parecia à primeira vista: ele mais não servira do que de peão inconsciente na hábil estratégia concebida por duas mulheres decididas não só a partilhar a cama, mas também a fortuna decorrente da indemnização da farmacêutica em causa.
Interpretado por Jude Law, o personagem Jonathan Banks tem tudo a seu favor: o aspeto físico e mental bem como a sua notoriedade. Ambicioso, imaginativo, reconhecido pelos pares, não pode imaginar-se ostracizado por ter prescrito um novo medicamento a uma mulher deprimida e ela ter esfaqueado o marido.
Mais do que filme sobre comportamentos psicológicos, estamos mergulhados no universo policial, conduzidos por um realizador com provas dadas na capacidade de o tratar com elegância e irreverência.
Steven Soderbergh já abordou a maioria dos géneros cinematográficos explorados em Hollywood e aqui pareceria regressado ao papel de denunciador de uma indústria - no caso a farmacêutica - como outrora já fizera com «Erin Brockovich».
Mas é apenas mais uma armadilha: porque depois de lançar as suspeitas sobre as práticas das empresas farmacêuticas, focaliza-se nas conspirações financeiras e amorosas em que ninguém é verdadeiramente quem parece ser. E Nova Iorque é filmada de forma semelhante à utilizada pelos grandes realizadores liberais da década de 70, Sidney Lumet por exemplo, ora familiarmente ora com a sua peculiar dose de mistério.
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