Até pode não passar de uma moda passageira, mas o primeiro contacto com o mundo criativo de FKA Twigs dá alguma razão a Vítor Belanciano, quando a considera no «Ípsilon» desta semana um dos grandes acontecimentos musicais de 2014.
Aos 26 anos Tahliah Barnett parece ser a cantora de quem se fala. Nascida na Inglaterra rural, de mãe inglesa (ainda que de origens espanholas) e de pai jamaicano (que quase não conheceu), começou por se entusiasmar pela dança e por isso estabeleceu-se em Londres aos 17 anos para adquirir a formação necessária para trilhar esse objetivo artístico. Foi assim que pôde ser vista como bailarina profissional em vídeos de Kylie Minogue ou de Jessie J ou nos cabarés locais.
Na entrevista telefónica dada ao jornalista do «Público», ela não enjeita essa fase da sua vida: “Para se chegar a algum lado é preciso insistir, falhar por vezes, e tentar retirar o melhor dessas experiências. Nessa fase da minha vida aprendi imenso – a estar em palco, a tentar ter o controlo sobre o público à minha frente, a colaborar com outros, ou a vislumbrar o trabalho de bastidores, nas luzes ou no som. E a encarnar personagens, a deixar de ser eu, sem nunca deixar de o ser.”
Mas a música veio como aposta mais bem sucedida, porque a sua criatividade mostra-se inovadora, mesmo que os sons não sejam de apreensão fácil no imediato. Belanciano define-a assim: “Eletrónica retorcida, ritmos inesperados em câmara lenta, muito espaço, com silêncios, ambientes etéreos, orquestrações, linhas de baixo subaquáticas e depois aquela voz que parece suspender os sentidos. Existe qualquer coisa de humanamente vulnerável e de força sensual alienígena na sua música.”
Mas ela não se limita a cantar esses temas ligados a um imaginário sensual e obsessivo: ela compõe, encena-os e filma-os de forma a dar-lhes possibilidades de leitura não só auditiva, mas sobretudo visual. Uma vez mais estamos perante uma artista total, que se cria como um conceito num todo.
Retomando o que sobre ela escreveu Vítor Belanciano “em cada canção ouvimos explicitamente a voz de uma mulher, expressando complexidades relacionais, mas ao mesmo tempo é também a voz de uma máquina, expondo vulnerabilidade. É aliás essa espécie de hipersensibilidade digitalizada que atribuiu à maior parte das canções uma carga emocional dual inesperada.2
Vale a pena darmos alguma atenção a um fenómeno, que promete dar-nos o ensejo de novas surpresas, de outras tantas descobertas.
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