Ver “Elysium” na semana da derrocada da família Espírito Santo tem o seu quê de singular, porque muito embora o realizador sul africano Neill Blomkamp já nos tenha demonstrado o potencial de leitura dos filmes de ficção científica como metáforas da situação política atual (o apartheid em “Distrito 9”), «Elysium» adapta-se de forma ainda mais eloquente aos dias que andamos a viver.
O ano é o de 2159 e existe uma sociedade bem estratificada entre uma minoria privilegiada, que tem por quinta da marinha ou comporta uma estação espacial em órbita com uma qualidade de vida irrepreensível, e uma imensa maioria condenada a viver na insalubridade, na poluição atmosférica e na miséria de uma sociedade terrestre com o seu quê de apocalítico.
Muito naturalmente os que estão cá em baixo tudo farão para subirem aos céus e acederem à boa vida dos privilegiados, mas contam com a determinação de Jessica Delacourt (Jodie Foster armada em vilã!), uma política apostada em manter invioláveis as fronteiras desse paraíso ameaçado. Em vão, claro, porque maior ainda é a afoiteza dos que nada têm a perder como é o caso do operário Max de Costa (Matt Damon) para quem tudo se resume a uma questão de vida ou de morte.
E, confirmando a rapidez com que vimos tombar poder dos DDT’s lusos, também o aparentemente inexpugnável mundo dos ricos cai como um frágil castelo de cartas, quando a luta pelo lugar cimeiro da sua organização acaba por precipitar o seu fim.
É claro que, para transmitir esta ideia tão obvia do ponto de vista político o espectador tem de passar por toda a parafernália de cenas típicas do cinema de série B no que diz respeito a pancadaria. Mas não deixa de ser curioso que do alfobre de filmes oriundos de Hollywood venha este título, que tão poderosa mensagem ideológica quer transmitir.
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