Em 1980, depois de servir de assistente ao filme realizado por Wim Wenders sobre os últimos dias de vida de Nicholas Ray, Jim Jarmusch decide ampliar o filme «Permanent Vacation», rodado no âmbito dos seus estudos de cinema na New York University, e transformá-lo na sua primeira longa-metragem. De meia hora o filme cresceu para a hora e um quarto, e ainda ostenta os defeitos e as virtudes de quem se estreia na realização. Mas já contem muitas das principais características, que norteariam depois toda a filmografia do autor: o interesse pelos losers, a banda sonora marcada pela música jazz e um conjunto de personagens com quem o protagonista se irá cruzar e interessantes o bastante para merecerem a atenção, que lhes damos e a pena de os deixarmos para trás à medida que o filme avança.
Durante três dias iremos seguir as deambulações de Aloysyus Parker pelas ruas de Nova Iorque, decoradas com os grafitis da época, ou seja influenciados por Basquiat ou Keith Haring.
Quando, depois de andar horas e horas pela rua, Aloysius regressa a casa da namorada estamos perante um fotograma digno de um quadro de Edward Popper. Leila bem lhe verbera a solidão em que a deixa, mas ele retorque-lhe com a dificuldade em dormir, uma boa desculpa para a deixar em proveito das suas deambulações.
É assim que iremos encontrar os tais personagens secundários, que tanto ilustram uma atmosfera de desencanto e de perda de orientação. Há o antigo veterano do Vietname, que revive os seus fantasmas numa casa em ruínas. A mãe de Aloysius, que está internada num manicómio. Uma mulher a cantar «cielito lindo» e assustada se alguém dela se aproxima. E John Lurie ao saxofone interpretando dois temas a solo.
Quando consegue roubar um carro pelo qual lhe dão oitocentos dólares, Aloysius está em condições de partir sabe-se lá para onde. Decerto para onde não se sentirá menos só...
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