segunda-feira, agosto 27, 2018

(DL) «O Manuscrito de Deus» de Juan Ramon Biedma (2001)


Como o «Código da Vinci» data de 2003 não se revela verdadeira a suspeita de estarmos perante um  sucedâneo desse best seller, congeminado com óbvios fins comerciais. De facto o romance de Juan Ramon Biedma data de dois anos antes, muito embora também aqui exista uma organização milenar, guardiã de um livro subdividido em cinco partes, e incumbida de evitá-lo ver cair nas mãos dos inimigos maléficos que, possuindo o conhecimento ali coligido, desencadeariam o Apocalipse. Temos assim  a Humanidade dependente do heroísmo de dois homens, um deles sacerdote, Alvaro Tertulli, e o outro, Riven, por ele contratado como guarda-costas e guia na desconhecida cidade de Sevilha, quando se dedicava ao «ofício» de arrumador de automóveis.
Pelo meio surge a Inquisição, instituição caducada pelo Papa Pio VIII na primeira metade do século XIX, mas tendo continuado a desenvolver clandestinamente a atividade, e desejosa de infletir a relação de forças no mundo católico ocidental, razão para também conspirar para se apossar do referido Manuscrito.
Estão assim criadas as condições para um romance movimentado com crimes terríveis a serem perpetrados sobre quem se julgava protegido pelas obras da Igreja: uma dúzia de sem abrigo envenenados ao ingerirem a refeição propiciada por uma instituição de caridade; meninos de coro decepados ou seriamente feridos por um vitral estilhaçado propositadamente quando estavam a atuar junto ao altar de uma igreja, doentes terminais abandonados à sua desdita por lhes terem raptado quem os cuidava. Os criminosos são quase sempre uma trupe de mendigos sórdidos, que atacam em grupo a mando de um velho pederasta, Amador, um antigo seminarista obcecado por uma vingança pessoal contra o clero em geral. Mas também um polícia corrupto, que serve de cúmplice ativo às forças maléficas.
O sexo está sempre presente e nunca é bonito de se acompanhar, porque conspícuo e violento.
Incumbidos de recuperar as cinco malas com a totalidade do Manuscrito, Álvaro e Riven vão recolhendo sucessivamente cada uma até serem capturados pelo exército de mendigos. O sacerdote morre numa das mais sinistras máquinas de tortura do Santo Ofício, enquanto o outro escapa do oportuno incêndio, que o livra dos inimigos. Embora o patrão o inste a suceder-lhe como novo Depositário do tesouro, destrói-o sem concluir, porém, que toda a trama era uma completa vigarice, engendrada pelo tio de Álvaro, quando ainda era um miúdo internado num colégio religioso e aí se viu humilhado pela severidade dos educadores.
Confuso e gratuito o romance apenas vale como entretenimento, embora nos questionemos sobre a perversidade de um autor capaz de criar situações próprias de uma imaginação doentia...

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