domingo, agosto 19, 2018

(DL) «Dora - Fragmentos de uma Análise de Histeria» de Sigmund Freud (5)


Dora nasceu em Viena em 1882, catorze meses depois do irmão Otto. No relato do seu caso, Freud dá pouca importância à mãe, tida como inculta, mas tirânica na relação com os filhos, não conseguindo uma relação empática, que desse provimento ao que seria expetável da sua influência maternal. Depreciativamente Freud arruma-a nos casos de «psicose das donas-de-casa.» E, no entanto, como viria a reconhecer ulteriormente, os problemas de Dora poderiam explicar-se em grande parte por esse défice afetivo recolhido de quem a dera à luz.
Aos cinco anos Dora chuchava continuamente o polegar  esquerdo enquanto puxava as orelhas de Otto com a outra mão. A compensação oral era complementada pelo papel de substituição assumido pelo irmão. A histeria revelava-se no conflito psíquico, que dissociava a representação do afeto na forma de recalcamento, denunciado no sobreinvestimento libidinoso de uma parte erógena do corpo, com que descarregava a excitação.
A atividade intensa da zona bucal de Dora causara a irritação da garganta, que explicaria a tosse persistente e, depois, a afonia. Os sintomas explicitavam o desejo reprimido do fantasma sexual.
Freud enfatiza o papel de Philipp, o pai de Dora, em quem reconhecia inteligência, perspicácia e atenção aos filhos, sobretudo quando ela estava na fase edipiana. Mas, quando ela tinha seis anos, a tuberculose do pai obriga a família a mudar-se para a vila termal de Murano, onde conhecem os Zellinka, aí radicados por motivos similares, já que Peppina, a esposa, apresenta perturbações nervosas. Ao constatar quanto ela passa a ser importante para Philipp, que a tomara por amante, Dora revelava novos sintomas psicossomáticos: deslocamento na retina, momentos de paralisia, enxaquecas. Eles agravam-se, igualmente, devido a uma conversa ouvida aos adultos, segundo a qual ficara a saber que o pai contraíra sífilis antes do casamento, o que fè-la identificar a sexualidade com uma vertente destrutiva, que estaria na origem da desorganização familiar. Nalguns dos fantasmas, que a obcecavam, imaginava o coito do pai com Peppina.
Na época Freud só apostou no complexo de édipo positivo. Mais tarde suspeitaria da bissexualidade de Dora, componente ainda ausente da sua congeminação teórica e que poderia explicar mais aprofundadamente os mistérios da mente da paciente.

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