quinta-feira, agosto 09, 2018

(DL) «Dora - Fragmentos de uma análise de histeria» de Sigmund Freud (2)


Freud publicou cinco grandes casos de psicanálise, sendo um deles o caso Dora, que deu a conhecer em 1905. Além da descrição de tudo quanto nela observara, desenvolve teorias, que justificam as opiniões de quem o considera uma adequada introdução para quem quiser conhecer a psicanálise.
Freud não enjeita as dúvidas e os limites que o acometeram, quando estava a deparar com um conjunto de sintomas sobre os quais sentia a necessidade de desenvolver hipóteses inovadoras em comparação com as que até então se colocavam. Ele próprio assombrado por pulsões homossexuais, compreende a pluralidade de transferências utilizadas por Dora para não reconhecer no consciente o que se passava nas profundezas da mente.
Logo de início, porém, Freud alerta para a dificuldade do que nos propõe como leitura, porque o texto agrega diversos fragmentos redigidos em épocas e contextos distintos. Daí o título «Fragmentos de uma análise de histeria».
Nos últimos anos do século XIX, quando já estava a elaborar as suas teorias, Freud envolveu-se numa fecunda atividade intelectual. Com o professor Josef Breuer partilhou, a partir de 1882, um estudo aprofundado de sintomas psicológicos, que os levou a publicar o ensaio «Estudos sobre a Histeria» em 1895, onde defendiam a correlação dos problemas dos pacientes com reminiscências que os atemorizavam. Distanciam-se quando Freud enfatiza a interligação das neuroses com a sexualidade infantil, algo que Breuer, perplexo, recusa-se a aceitar. Ainda assim apresenta-lhe um colega berlinense, Wilhelm Fliess, que o substituirá como cúmplice preferencial das reflexões de Freud na direção para que lançava a sua fundamentação. Até 1902, Freud e Fliesse estabeleceram uma viva correspondência, feita de reflexões intimas e especulações teóricas.
Nessa época Freud tratava de Philipp Bauer, rico industrial a quem a sífilis causara graves perturbações neurológicas. Já se tornara um paciente de longa data do médico vienense, quando lhe apareceu com a filha, Dora, então com dezasseis anos, porque ela queixava-se de tosse permanente e de enxaquecas.
Só dois anos mais tarde, é que Ida Bauer - verdadeiro nome de Dora - passou a frequentar regulamente o consultório de Freud porque, além dos sintomas anteriores, passara a ter crises de afonia e desmaios impressionantes.  Notoriamente deprimida, os pais também reclamavam contra perturbações no seu carácter.
Freud diagnostica-lhe uma ligeira histeria e começa com o correspondente tratamento em outubro de 1900. Depois de Emmy von N., Miss Lucy R., Katarina e Elizabeth von R. - que já abordara sumariamente nos seus «Estudos sobre a Histeria» - Dora permite-lhe completar o estudo da estrutura da histeria, da formatação da psique e do papel dos fantasmas.
Dissociando a histeria dos estados degenerativos em que até então a tinham arrumado, avançou com o método inovador da associação de ideias sobre tudo quanto surgia na mente da paciente. Ensaiava assim uma cura baseada nas palavras.

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