quarta-feira, agosto 15, 2018

(DIM) Aqui e Agora


(«Here and Now», série de Alan Ball)
Eu espectador me confesso desconcertado com o que deparo numa família de Portland. Tim Robbins, o patriarca, acaba de passar os sessenta, sempre andou a dar aulas de Filosofia a gerações sucessivas de alunos e conclui nada saber do que andou a transmitir-lhes. Porque, mais importante do que fazer perguntas dificilmente respondíveis, é sair dos anfiteatros e ir para a rua viver, colhendo tanto prazer quanto se conseguir.
Holly Hunter é a mãe de família sempre preocupada com a prole, compassiva com todas as suas opções de vida, exceto se elas indiciarem a réplica da loucura em tempos detetada no tio Ike, e de cuja degenerescência nunca voltou a recuperar. Compreende-se o pânico de ver Ramon viver algo de semelhante, dadas as alucinações a que se sujeita em torno dos números 11 11, embora o ADN não servisse de explicação, porque fora adotado durante uma viagem pela Colômbia. Ademais, ele e quase todos quantos contacta, estão frequentemente sob o estado alterado das substâncias alucinogénias.
Questionamo-nos, porém, com o ainda por esclarecer: como se compreende ter Ramon alucinado com uma mulher e um miúdo numa praia, sendo este último o próprio terapeuta com quem acaba de iniciar a psicanálise? E que o próprio pai adotivo também comece a ser assombrado pela mesma sugestão numérica?
Enquanto não  surgem as pistas para as correspondentes respostas acompanhamos as vicissitudes dos outros rebentos da prole, com a adolescente Kristen a perder a virgindade com uma máscara de cavalo na cabeça - proteção insuficiente para a clamídia que logo a apoquenta! -, a irmã negra a perder o gosto pelas perucas, quando sente na pele o racismo da polícia, ou o irmão vietnamita a compreender quanto do seu sucesso como autor de livros de autoajuda depende da tutela paterna.
O retrato da América trumpiana, através do quotidiano dos  Bayer-Boatwright, revelou-se tão incómodo para quem neles se viu espelhado, que não passou o crivo da primeira temporada. Não teremos a oportunidade de conhecer como eles evoluiriam numa realidade ainda dominada por tão execrável Administração.

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