sexta-feira, agosto 03, 2018

(DIM) «Meu Querido Inimigo» de Gjergj Xhuvani (2004)


O atual cinema albanês é-nos quase desconhecido, razão porque este título disponível no you tube pode ser interessante de descobrir, mesmo apenas tendo disponível a versão original sem legendagem.
Um bom indício do seu interesse reside logo no genérico e nas cenas iniciais, acompanhadas com a 7ª Sinfonia de Chostakovich, perfeitamente ajustada à chegada dos invasores alemães a uma vila até aí ocupada pelos italianos. Como, derrubado Mussolini,  os nazis viram esse aliado mudar de trincheira, passaram a considerar inimigos os soldados até então considerados seus cúmplices. Razão porque um deles, deixado para trás por estar hospitalizado, pede ajuda a Harun para que possa por ele ser escondido na sua quinta. Desconhece que, na cave, irá encontrar, na mesma situação, um guerrilheiro comunista a ambos juntando-se um ourives judeu decidido a escapar à fatal transferência para um campo de concentração.
A família do merceeiro, junto de quem os alemães se irão em breve abastecer, conta igualmente com dois irmãos dele, o impotente Sami, incapaz de satisfazer os apetites sexuais da mulher, e Vasian, um historiador casado com Gerda, uma alemã indefinida quanto à simpatia ou antipatia relativamente aos seus compatriotas invasores. Mas todos eles obedecem à matriarca, que tudo decide, inclusivamente essa perigosa forma de resistência de esconder quem os alemães possam passar pelas armas.
As relações entre os três clandestinos é tensa, mas também com eles irá interagir a frustrada mulher de Sami, que se impacienta por ele passar o tempo a tocar acordeão, e sente atração pelo italiano. Mas também Harun tem de se aprimorar na duplicidade, porque o responsável alemão pela logística, sempre acompanhado de um tradutor colaboracionista, ora o insta a encontrar os bens alimentares de que necessita como até o visita na quinta, suscitando justificado receio, quer nos que estão escondidos, quer nos que os escamoteiam aos olhos inimigos. No entanto o oficial em causa está, sobretudo, interessado em Gerda, cujas reações ambíguas nos levam a pensar se será por ela, que a tragédia será despoletada.
Esse perigo iminente nunca se confirma e, com a evolução do conflito, passam a ser os alemães a terem razão para sentirem medo.: o oficial alemão será morto num atentado da Resistência, quando pretendia despedir-se galantemente da compatriota antes de iniciar a debandada para linhas mais recuadas.
A vitória aliada não tarda e tem um efeito inesperado para Harun: ele que ajudara os opositores à Ocupação, mesmo aparentando fazer bons negócios com os nazis, é levado no final para ser julgado como colaborador. Foi para o homenagear, já que ele replica o sucedido com o próprio avô do realizador, que Xhuvani concretizou este projeto.

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