quinta-feira, agosto 16, 2018

(DL) «Dora - Fragmentos de uma Análise de Histeria» de Sigmund Freud (4)


Apesar de recheadas de lacunas, enigmáticas e imprecisas, com amnésias e insinceridades conscientes ou inconscientes  - como acontecia com os pacientes definidos como «histéricos» - as palavras de Dora durante o tratamento permitiram a Freud recolher dados fragmentários dos problemas recalcados, que complementou com informações obtidas junto dos familiares, sobretudo do progenitor, o que nos dias de hoje seria inaceitável.
Quando se dispõs a descrever o caso, Freud articulou os elementos biográficos e a descrição dos sintomas com comentários da sua lavra, ora correspondendo à formulação de hipóteses, ora integrando-os nas próprias teorias.
Dois sonhos relatados por Dora incitaram-no a aprofundar o que já redigira sobre o assunto, chegando a ponderar na redação de um  ensaio, que intitularia «Sonho e Histeria», mas acabou afinal pela opção de «Fragmento de uma análise da Histeria», quando depararou com o abandono da terapia pela paciente apenas onze semanas passadas sobre o início da cura. Essa fuga seria explicada pela técnica utilizada por Freud, demasiado ativa, ou seja intrusiva, junto da adolescente, depressa assustada pelas revelações, que propiciava ao médico e a si própria.
Põe-se então a questão de encontrar neste texto muito denso a complexa montagem que pressupõe um nível elevado de elaboração a partir do que efetivamente terá acontecido durante as sessões. Como extrair deste magnifico puzzle as bases de uma nova ciência em vias de se afirmar?
Há três orientações principais, que podem discernir-se. Na época elas ainda não estavam suficientemente teorizadas, pelo que fica testemunhado o génio de Freud e a sua admirável capacidade criativa.
A primeira corresponde à fixação oral de Dora, que levou Freud a apelidá-la de «sugadora» e a criar o conceito de «compensação somática».
A segunda explora o complexo de Édipo e o papel da bissexualidade psíquica nesse mesmo conceito, fator primordial e estruturante das identificações histéricas. Freud ver-se-ia aqui desafiado pela natureza da homossexualidade.
A terceira tem a ver com o conceito de transferência, sentindo que nunca conseguiria controlar essa opção estratégica de Dora no desenvolvimento dos sintomas.

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