segunda-feira, agosto 20, 2018

(DIM) A universalidade do cinema de Yasujiro Ozu no pós-guerra


O público ocidental só passou a conhecer as obras de Yasujiro Ozu, quando ele já tinha morrido. Culpa da sociedade produtora japonesa, que nunca investira na exportação desses filmes por os achar conotados em demasia com a cultura nipónica, não acreditando que pudessem interessar a quem nela não estava imbuído. Nesses produtores formara-se a ideia de só interessar aos europeus o que tivesse a ver com o exotismo constituído pelas histórias com samurais e geishas.
Hoje conclui-se o contrário: Ozu é considerado o autor de obras de teor universal, por terem a ver com sentimentos e inquietações próprias dos seres humanos, quaisquer que sejam as coordenadas geográficas onde vivam. Mas isso só é verdadeiro para os filmes posteriores à Segunda Guerra Mundial, porque os anteriores, sobretudo os do período mudo, têm a ver com quem fora quando chegara aos estúdios e, questionado sobre que tipo de cinema mais apreciava, dera como preferidos os policiais e as comédias dos estúdios de Hollywood. Nessa primeira parte da filmografia, abundam propostas de entretenimento sem preocupações políticas ou sociais. Rodando-os sem grandes pretensões, Ozu assinava três filmes por ano, nada que se comparasse com a época posterior a 1945 quando o sucesso do seu cinema lhe permitia dedicar mais tempo à preparação do argumento e à découpage, rodando com menos pressão e alongando-se na pós-produção. Daí que tenham então surgido as suas reconhecidas obras-primas.
Durante o conflito mundial, Ozu fora mobilizado para o apoio aos exércitos imperiais, sendo colocado na Manchúria, donde passaria para Singapura onde seria capturado pelos Aliados, que depressa o libertaram. Quando chegou ao Japão, após longa ausência, encontrou um pais completamente diferente e onde as mudanças tendiam a acelerar-se.  Ele próprio mudara e, por isso mesmo, nunca mais deixaria de abordar o tema do passado irrecuperável perante uma ocidentalização, que descaracterizava os compatriotas, embora lhes deixasse intimamente um rasto de nostalgia.

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