sábado, dezembro 02, 2017

(EdH) O nosso berço africano

Os mais antigos vestígios do Homo sapiens foram descobertos na África Oriental, muito embora estudos mais recentes apontem para o seu surgimento simultâneo em diversas regiões do continente. Ademais os nossos antepassados continuaram a misturar-se com outras subespécies hominídeas amplificando a nossa diversidade genética.

Há duzentos mil anos uma nova espécie surgia na superfície do planeta: o homo sapiens, ou seja  o homem moderno, que já chega a 7 mil milhões atualmente.
O berço dessa civilização aconteceu em África, no seio de outros homens arcaicos, que se julgava não terem tido qualquer influência com essoutro então surgido, mas que descobertas recentes demonstram ter sucedido precisamente o contrário: que a Humanidade nasceu muito antes do que se julgava, resultado de uma hibridação que respeitou os princípios definidos por Darwin, revelando-nos diferentes do que julgávamos ter sido.
Há cento e noventa e cinco mil anos na Africa Oriental surgiu o chamado Homem 1, um caçador com o mesmo tipo de corpo e de cérebro, que o nosso. Morreria com menos de trinta anos, mas a sua existência chegou-nos sob a forma de ossadas, que serviram para estudar quem foi e quais eram as suas características morfológicas.
Se hoje o vale do Omo é quase inóspito, naquela época era pantanoso e constituía habitat ideal para o caçador pré-histórico.
Em 1967 uma expedição internacional deslocou-se ao sul da Etiópia para procurar fósseis humanos., encontrando vestígios de três homens da mais recôndita Antiguidade. O esqueleto mais completo foi chamado o Homem 1, mas ainda não existiam técnicas suficientemente avançadas para dele se obterem os segredos, que conservava. Como a datação por carbono 14 só é viável para os mais recentes 50 mil anos era inconcebível conseguir uma resposta rigorosa para a questão de se saber quando tinha surgido o primeiro homem moderno.
Foi a datação do árgon nos sedimentos onde esse esqueleto aparecera, que permitiu chegar ao cálculo de 195 mil anos. A nossa árvore genealógica remonta, porém, a mais de 2,5 milhões de anos, mas durante grande parte desse longo período assemelhámo-nos mais a macacos do que a seres humanos. Foram assim definidas muitas espécies diferentes para designar tais hominídeos: homo habilis, homo ergaster, homo heidelbergensis, homo rhodesiensis entre muitos outros.
O Homem 1 tinha a mesma altura que um africano de hoje e pesava 70 quilos, dedicando-se à caça de porcos selvagens e de antílopes com armas talhadas em pedra na forma de pontas. Provavelmente terá morrido ali, onde o seu esqueleto foi encontrado, depois de abandonado pela tribo, quando esta se terá apercebido nada estar ao seu alcance para lhe aliviar os últimos momentos de vida. Essa população sobrevivia, porque era capaz de refletir e fazer projetos como sucede connosco.
Esse achado arqueológico tende a comprovar que foi ali o berço da civilização humana, o nosso Jardim do Éden. Dali ter-se-ia disseminado em todas as direções por todo o planeta. Nos anos 80 os geneticistas terão confirmado essa tese através das mitocôndrias no ADN das populações das mais variadas latitudes, todas elas remetendo para esse Adão africano. Fatores diferenciadores como os da cor da pele ou dos olhos só viriam a revelar-se posteriormente.
Investigações recentes tendem, porém, a complexificar a questão desmentindo que ela seja assim tão definitiva. No Instituto Max Planck, em Berlim, estudos num hominídeo datado de há trezentos mil anos, e cujas ossadas foram descobertas em Marrocos, mostra um fácies moderno, mas com um cérebro primitivo. Torna-se assim pertinente a possibilidade de não ter havido apenas um local onde tenha surgido o homem moderno, mas diversos, todos concorrendo para a evolução, que se verificaria depois.
No Vale do Rift deveria haver um contacto permanente, e sem que se traduzisse obrigatoriamente em relacionamento hostil, entre diversos tipos de hominídeos, uns mais avançados do que outros na evolução para as características humanas. As ideias deveriam circular e, com elas, os próprios genes, até resultarem no que passámos a chamar como Homens Modernos. Segundo essa tese nós somos o resultado da mistura de diversas espécies de hominídeos espalhados por toda a África. As origens podem remontar a épocas muito mais recuadas do que imagináramos. E, de facto, investigações efetuadas em Houston com amostras de ADN, consegue fazer remontar os antepassados de alguns indivíduos atuais a hominídeos de há mais de 338 mil anos na África Ocidental. O que conduz à teoria de o homo sapiens ter continuado a miscigenar-se com outras populações arcaicas, que também transmitiram os cromossomas aos sucessores. Os atuais Pigmeus dos Camarões parecem ter no seu ADN mais cromossomas de populações arcaicas do que se encontram na maioria dos que hoje vivem no planeta.
Há cem mil anos, quando essa hibridação se tinha consumado significativamente, o homo sapiens partiu de África para chegar á Ásia Menor. Mas antes dele, já populações arcaicas tinham tomado a mesma direção, chegando à Ásia e à Europa há mais de um milhão de anos, e evoluindo para formar espécies diferentes, a mais famosa das quais foi designada como o Homem de Neanderthal com muito de bestial e de simiesco, ou seja de inferior. Mas estudos recentes reabilitaram-no mostrando que, pelo menos, ele é nosso primo quanto às capacidades de que dava mostras para sobreviver.
No Instituto Max Planck os cientistas concluíram nada haver no ADN do homem de Neanderthal, que tivesse a devida correspondência com as populações africanas, mas no caso das europeias ela é mais do que evidente, o que faz todo o sentido porque essa espécie terá existido sobretudo no nosso continente  e terá sido no Próximo Oriente, que se misturou com o homo sapiens. Isso mesmo se se comprova no encontro de ossadas das duas espécies no mesmo local arqueológico na Alta Galileia, uma gruta considerada um dos espaços mais prometedores para continuar a ser explorado pelos cientistas. Porque o que nela se achou já permitiu concluir que, indo do sul para norte, tribos de homo sapiens, ter-se-ão cruzado com neandertais, então a escaparem de uma época de penúria na Europa, tendo uns e outros convivido durante pelo menos dez mil anos. 

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