sábado, dezembro 09, 2017

(DIM) Esta tarde na Cinemateca: «Cartas de amor de África» de Frédéric Mitterrand

Em 1982 Frédéric Mitterrand ainda era alguém, que justificava alguma admiração pela confiança, que lhe poderíamos depositar quanto ao seu gosto cinéfilo e às propostas que sugeria.  O seu enfeudamento à direita ideológica ainda era incerto embora também ninguém pudesse pressupor o contrário.
Data desse ano o seu primeiro filme, «Lettres d’Amour en Somalie», um misto de ficção com documentário, em que um personagem em voz-off vai exorcizar o luto afetivo na Somália, fazendo corresponder  o ânimo pesaroso dos seus estados de alma com as imagens de um país muito pobre, mas ainda longe do Estado falhado em que, entretanto, se converteu.
A crítica alertou, na época, para as óbvias influências de Marquerite Duras, então no auge do prestígio. E as palavras finais com que se conclui, captando a paisagem noturna de Paris a partir de um travelling vertical colhido no elevador da Torre Eiffel serve-lhe de alguma forma de síntese: “Um dia, esta paixão que decerto te impunha, voltarei a retomá-la. Amarei outro alguém. Ou outros alguéns. A vida é, às vezes, tão longa. Tal qual te vejo, ver-te-ei diferente. Enquanto me amavas igualmente à tua maneira, não te verei em nenhum lugar. Ao afastar-me sem a esperança de um regresso, roubar-te-ei novamente, na ideia que de ti guardava. E se por acaso nos reencontrarmos mais tarde, terei comigo todas as imagens de quando fomos jovens e recusarei a restituir-tas. (…)  Olha-me: devolvo-te à inocência. Aprende o seu outro nome: a solidão!”

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