terça-feira, dezembro 12, 2017

(EdH) Catalunha em vésperas de uma eleição decisiva (II)

Inicialmente a união entre a Catalunha e Aragão revelou-se consensual, sobretudo porque o rei prestava bem mais atenção à rica região costeira do que ao modesto território interior. O comércio marítimo proporcionara a ascensão de importante burguesia barcelonesa e importante desenvolvimento urbano, que tendia a considerar insuportável a tutela aragonesa. Para  mitigar tal sentimento a coroa transigiu numa decisão, que lhe retirava grande parte dos poderes: a criação da Generalitat - o órgão agora desrespeitado pelo governo de Mariano Rajoy! - nas Cortes de 1359, com reconhecido poder político e judicial.
Em 1412, com a subida ao trono do castelhano Fernando de Antequera, o relacionamento entre as duas regiões vai ficar ainda mais seriamente comprometido, mas é reinado curto, e o sucessor, Afonso V, o Magnânimo, assume-se como o conquistador, que domina a Sardenha e o reino de Nápoles, fechando os olhos às crescentes manifestações dos autossuficientes catalães.
Outra atitude será a de João II, que ascende ao trono em 1458: não só decide reprimir a autonomia catalã, como o faz violentamente, subjugando Barcelona após longo cerco. Trata-se de um momento de viragem com o poder central madrileno a virar-se para o Atlântico em detrimento do Mediterrâneo.
Apesar da violência a que se sujeitavam, os catalães irão revoltar-se amiúde nos séculos seguintes: primeiro em simultaneidade com os portugueses, quando estes restaurarão a identidade nacional sob um Estado próprio - algo que eles não conseguirão por voltarem a sofrer uma dolorosa derrota militar - mas também em 1700 e 1714.  Nesse século XVIII a região conhecerá novo florescimento económico não só por a sua população escusar-se à tentação migratória dos demais espanhóis, como por crescer demograficamente e contar com a reintensificação do comércio nos seus portos.
A invasão napoleónica trava essa dinâmica, embora  os franceses acedam a uma administração local bastante autónoma liderada por um prefeito, que aprova o lançamento de jornais em língua catalã. Quando o Império do vizinho claudica grassa uma guerra civil por toda a Espanha e reforça-se a unidade em torno do poder central madrileno Os catalães bem tentam contrariá-lo com atentados particularmente intensos entre 1830 e 1840, mas o domínio castelhano continua a prevalecer.
No século XX esse predomínio centralista perde gás e o impulso independentista ressurge com a insurreição de 1934, que declara a existência do novo Estado catalão liderado por Luís Campanys. Mas Franco sai vencedor da Guerra Civil sendo Barcelona o derradeiro bastião da resistência democrática à ditadura fascista. Quando a capital se rende, em 26 de janeiro de 1939, Franco logo se apressa a esmagar todos os indícios de identidade catalã por muito que greves operárias entre 1950 e 1970 e algumas revoltas estudantis a tentem recuperar para a normalidade quotidiana. A autonomia regional só volta a ser aprovada por referendo em 1975, logo após a morte do ditador...

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